terça-feira, 22 de novembro de 2011

#19 - Yo soy Rebelde

Yo soy Rebelde

Houve um tempo em que ser rebelde não era uma novela sobre adolescentes riquinhos com problemas de relacionamentos. Ser da mesma sala de aula, por quase oito anos, era praticamente uma irmandade já. Todo mundo sabia onde todo mundo morava, iam sempre nas mesmas festas, conheciam todos os prós e contras da sala, eram cúmplices dos mesmos crimes e por aí vai. Mexer nesta estrutura familiar significaria problema.
Em meados de outubro, vários alunos estavam apertados para passar de ano e finalmente se graduarem no Ensino Médio. Havia casos em que de 30 pontos, eles precisavam de 27. E como estes alunos já têm mais dificuldade, seria praticamente impossível que eles conseguissem. Pensando no aprendizado dos alunos, a direção decidiu separar todas as seis turmas do terceiro ano e classificá-los por notas, para pode trabalhar assim de maneira diferenciada em cada turma.
Uma medida pedagógica até aceitável, mas não faltando três meses para a formatura, isso era inadmissível. Você passa oito anos da sua vida convivendo com praticamente as mesmas pessoas, para chegar na última curva antes da reta final e ter que gravar as suas últimas lembranças da vida escolar com pessoas que você mal conhecia, nenhum aluno do terceirão aceitaria isto.
Indignados com a prática, os alunos esperaram ver que a mudança realmente acontecera para começarem a planejar uma rebelião. Uma estudante chamada Naloi começou a liderar a força rebelde da escola para que algo fosse feito para deixarem as turmas como estavam. Um representante de cada turma tentou falar com a direção, mas esta não ouviu os estudantes e não quis voltar atrás em sua decisão.
Afoitos com a situação e querendo farrear, os alunos tomaram uma decisão rebelde: ninguém iria assistir aula até o momento em que as turmas voltassem ao original. Os dois primeiros dias foram uma maravilha! Todo mundo farreando nas quadras, ninguém na sala de aula, jogatina esportiva a manhã inteira e muita diversão. A direção da escola não sabia o que fazer para reverter a situação e trazer os alunos de volta para a classe.
Professores mais terroristas tentaram comprar os alunos com provas surpresas e trabalhos avaliativos, mas os nerds já haviam passado no terceiro bimestre e os que não passavam já estavam conformado com as dependências, então não adiantou porcaria nenhuma.
No terceiro dia de greve, já estava até dando vontade de matar a quadra e assistir um pouco de aula, mas a força rebelde falou mais alto e os alunos desmotivaram-se rapidamente e voltaram a prática desportiva.
Para piorar a situação, os grevistas não podiam deixar de convocar a imprensa, esta que compareceu prontamente. Achando que o motivo da rebelião era grave, eles devem ter ficado desapontados quando descobriram que não passava de uma birra de alguns menininhos que haviam sido mudado de sala.
No quarto dia, a direção já estava com bastante raiva dos alunos e decidiu passar pra agressão verbal e para ameaças do tipo “ou vocês voltam pra sala de aula agora ou serão expulsos da escola e perderão todo o ano letivo!”. Leiga ameaça. A peteca continuava muendo, raquetes agrediam bolas de tênis, a bola de vôlei cruzava a rede e as salas de aula continuavam vazias.
No quinto dia, alguns mocorongos começaram a assistir aula: “O vestibular está chegando, preciso da aula de História para me dar bem no exame”. Este cara está trabalhando em uma fábrica de costura. “Nossa, o Saulinho de Química vai dar trabalho, preciso de ponto para passar”. Atendente no Bazar Guri. “Ai gente, vai que eles expulsam a gente né, já cansei de ficar aqui na quadra de bobeira”, do lar.
Outros permaneciam firmes na decisão: “Todos os meus amigos estão aqui, só volto quando nos botarem na nossa sala antiga”. Sargento do Exército. “Estou pouco me lixando pra pontos e pra notas, quero é aproveitar meu último bimestre como estudante”. Aluno cursando mestrado em engenharia. “Fuck the system!” Médico.
Mas pouco a pouco a coisa foi apertando. Vários traíras começaram a ceder às ameaças feitas pelos professores e desertaram para as salas de aulas, com o intuito de aprender em dois meses o que eles deixaram de aprender durante onze anos. Sem opção, o grupo rebelde começou a desistir da birra e resolveu aceitar a medica pedagógica, porém com uma última condição: Queremos uma festa de formatura conjunta com todas as seis turmas e nas fotos do convite de formatura gostaríamos de sair na foto com nossa turma antiga.
A greve a princípio não teve resultado nenhum e todos saíram derrotados, mas o que aconteceu foi estranho e bonito. O bloqueio que o povo tinha contra novas amizades foi quebrado e a interação entre todas as seis turmas aumentou de força exponencial. A festa foi épica, mas isto é caso para outro causo.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

#18 Testemunhas de G-ová

Título alternativo: Primeiro de abril

(nota do autor: fiz esse com muito sono e não teve 5% da graça do que teve no original)

É muito difícil alguém cair nas piadinhas de primeiro de abril, ainda mais que a segurança anti-mentira fica redobrada nesta data. Mas quando a pessoa é sagaz, como o caso do jovem garoto chamado G-ová, esta data pode criar um brainstorm na cabeça de muita gente e fazer ela viver fora da realidade por alguns bons minutos.
Tudo começou, no dia 31 de março, quando uma menina solitária que queria amigos convidou alguns jovens que ela conhecera no dia anterior para irem em uma festa na sua casa. Como ela falou as palavras proibidas “pode chamar quem quiser” é claro que a casa dela ficou lotada de estranhos e a festa bombou.
Bombou até na hora em que os vizinhos chamaram a policía e o estoque da festa ainda estava na metade. Sem ter para onde irem, o grupo partiu para a Praça da Matrix carregando toneladas de bebidas. A festa continuou no mesmo rítmo: gente tonta dando manota, garrafas de refrigerante barato sendo explodidas, risos e manotas denovo, até o momento em que G-ová resolveu dar um showzinho.
Primeiro, ele virou para o Cafu e falou que o Kuririn havia ligado para ele, querendo saber se Cafu estava na Praça, pois ele estava se dirigindo pra lá para quebrar a cara do infeliz. Cafu, cagado de medo pela ameaça, foi embora correndo sem nem ao menos se despedir do pessoal.
Para continuar na vibe do telefone, G-ová ligou para Kenshin e falou que o Tonho estava provando que o Makoto era gay e que o Makoto estava querendo cortar os pulsos na festa. Kenshin, que estava em uma festa de 15 anos, comendo e bebendo de graça, saiu correndo para tentar acudir a alma penada do seu amigo e quando chegou lá se deparou com G-ová rindo da piadinha de primeiro de abril (já havia passado da meia noite, por isso ele havia começado com as traquinagens). Kenshin queria matar G-ová só um pouquinho, mas preferiu voltar pra festa e esquecer que aquilo havia acontecido.
Depois disso, havia um carro que estava estacionado próximo à Praça e um homem ficava olhando para os festeiros. G-ová virou para um amigo seu que era homofóbico e proferiu as seguintes palavras:
- Urso de pelúcia, tá vendo aquele cara no carro ali? Pois é, ele falou que te achou uma gracinha e tá querendo ficar com você.
Urso de pelúcia ficou putão da vida e já queria sair correndo pra dar uma surra no rapaz alegre. Temendo o que poderia virar a mentira, G-ová tentou segurar seu amigo, mas Urso de pelúcia estava empurrando com força e gritando muito.
Nisso, um amigo de G-ová, pensando que Urso de pelúcia estava brigando com seu companheiro, já saiu correndo e começou a bater em Urso de pelúcia. Um amigo deste, vendo seu amigo apanhar, entrou na briga e sete segundos depois mais de vinte pessoas já estavam numa bola humana, batendo e apanhando de pessoas que eles nem sabiam quem. A briga durou um bom tempo, várias camisas foram rasgadas, alguns arbustos foram destruídos, mulheres choraram tentando separar, até que um dos lutadores fez a pergunta primordial: por que estamos brigando?
Todos ficaram sem entender ae foram justificando:’ eu briguei porque achei que você tava batendo nele” outro prosseguia “eu também achei que você queria bater nele e vim defender” e por aí foi até verem que a briga era idiota e sem sentido.
Depois deste susto, G-ová prometeu que aquela piadinha de primeiro de abril nunca seria revelada e sentiu as proporções gigantescas que sua mentirinha causou. Ninguém, exceto dois amigos que não tinham nada a ver com a briga, sabe que ela foi causada por uma gracinha de G-ová, caso contrário ele que apanharia de todos os convidados da festa.
Crianças, não repitam esta ideia, pode dar errado. Depois não adianta chorar o sangue derramado, como G-ová fez.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

#17 - Guerra Química

Essa semana eu passei muita raiva e para esquecer meus problemas comecei a escrever compulsivamente, então me desculpem por ter feito 4 contos em três dias. Eu preciso deste escapismo, senão.... gosto nem de imaginar. Minha meta são 24 contos, já estou quase lá! Este é meio sem graça mas eu tinha que registrar essa história, pq ela foi épica.

Guerra Química

Se tem uma verdade absoluta no mundo ela é a música Química do Legião Urbana. Não existe matéria mais amedrontadora do que essa de jeito nenhum. São pouquíssimos os alunos do Ensino Médio que dizem gostar desta matéria e as provas dela causam noites de insônia em muitos corpos durante a noite.
Os alunos da escola SauloCovarde sofriam diversos problemas com a disciplina, ainda mais por serem alunos do professor Saulinho, o carrasco mor da cidade de Santana do Livramento do Sudoeste, onde se passa esta estória.
O professor era muito nervoso e durante os 50 minutos de aula, os alunos apenas ficavam balançando a cabeça, concordando com o que ele dizia. Várias vezes ele fazia algumas gracinhas e pegava os alunos, como da vez em que ele disse:
-A fórmula da água é H20 não é?
- EEEEEEEEEEEEE - respondiam os alunos em unisono.
-A do oxigênio é O2 né?
- EEEEEEEEEEEEE – continuava os estudantes dedicados.
- O carbono faz vinte ligações não é?
-EEEEEEEEEEEEEEEEEE....
- Só se for na puta que pariu! Quando vocês vão criar vergonha na cara e estudar....
E dessa forma seguia dando torra por uns vinte minutos.
Saulinho também era uma galentedor. Qualquer ser do sexo feminino era cortejado pelas suas canções amorosas e piadinhas infames.
O professor distribuia seus pontos da seguinte forma: metade em trabalhos e metade em uma prova. Quem ia às aulas, fazia todos os trabalhos, automaticamente já ganhava estes 50% das notas. Agora tirar 10% nas provas era o pemba! Eram dois alunos entre quarenta que conseguiam a façanha. Ninguém nunca passava com ele no terceiro bimestre e até os nerds choraram, suplicando por piedade.
Eis que em certo ano, no quarto bimestre, 95% dos alunos precisavam tirar mais de 70% na última prova do Saulinho e todos já contavam com uma recuperação ou dependência, até que o professor, muito gentil, resolveu ter a caridade de dar uma aula extra no turno noturno em um dia antes da prova para que os alunos tivessem a última oportunidade de aprender a matéria e não ficarem ali na escola mais um ano.
Na véspera da prova, a sala inteira estava presente para a aula extra, mas mesmo assim ninguém conseguia entender bulhufas da prova. No meio da aula, Saulinho sai para tomar um café e todo mundo fica lá, tentando fazer um exercício impossível, até o momento em que Godric, um dos alunos mais calados da sala, levanta da sua carteira, vai até a mesa do professor e abre um envolope que lá repousava. Ele tira um papel lá de dentro e le o cabeçalho. Em seguida ele sai correndo enfiando o papel dentro do bolso e sentando na sua cadeira tremendo friamente. Ele só abre a boca e diz:
- É a prova de amanhã!
Todo mundo começou a ficar inquieto, ainda mais pelo fato do professor já ter voltado para a sala. O desespero absoluto levou Godric a fazer o roubo e naquele momento todo mundo da sala queria ser o melhor amigo dele. Uma aula nunca demorou tanto para acabar. Ninguém mais prestava atenção nas explicações do professor, só queriam saber como fariam para pegar uma cópia das questões com Godric, o que seria a última esperança para que todos pudessem formar e ser felizes.
Terminada a aula, todo mundo saiu correndo para o mesmo portão que Godric saia e foi preciso caminhar uns quatro quarteirões até ele criar a coragem de tirar o papel do bolso novamente. Ninguém nunca viu a sala tão unida como naquele dia. Os caxiões fizeram um mutirão para tentar resolver as cinco questões da prova e o resultado foi lamentável: os cinco maiores cérebros da sala conseguiram fazer apenas uma questão e meia.
Já eram 10 horas da noite e a prova seria na manhã seguinte, às 7 horas. A coisa estava preta! Até alguem falar que conhecia uma professora particular e que pagando uns vinte reais ela faria a prova para a gente. A sala inteira fez uma vaquinha (cinquenta centavos para cada) e foi de mutirão para a porta da casa desta salvadora de vidas, que teve a benevolencia de fazer a prova. Tempo passa e tempo voa, todo mundo só queria saber como fariam para copiarem as respostas para montar sua cola particular. Outra salvadora da sala diz:
-Na minha casa temos fax! Dá pra tirar xérox para todo mundo. Meia noite e meia, a sala inteira na casa dela esperando o fax fazer as cópias.
No dia seguinte, todo mundo tenso e cada um mostrando suas habilidades em mocar o papelzinho com a solução das questões. Alguns colocavam na bolsinha, outros colavam na tabela periódica, alguns já haviam memorizado todos os enunciados das questões, e por ai vai. Batia aquela ansiedade no peito de “será que vai ser a mesma prova?” “Será que ele irá desconfiar?”. Até o momento em que ele pega o envelope e entrega as venenosas. A primeira pessoa a receber só olha para o papel e faz um gesto de “yes” com o braço e a sala inteira abre um sorriso resplandecente. Enquanto Saulinho entregava as provas, ao chegar à penultima carteira, ele se depara com apenas uma prova sobrando no envelope. Logo ele já diz:
-Está faltando uma prova! Eu tenho certeza que mandei xerocar 42.
Deu pra sentir o suor escorrendo na testa de todos. O silêncio reinou na sala até o momento em que ele pede a um aluno ir até a secretaria pedir uma cópia extra.
A prova decorreu num ritmo lindo: todo mundo escrevendo sem parar. Muitos queriam ser o primeiro a entregar, com medo de que o professor desconfiasse quando visse todas as provas respondidas da mesma forma. A questão é que todo mundo ficou quietinho, fez a avaliação e entregou a prova na maior cara de pau. Se Saulinho descobriu ou desconfiou do crime, ninguém nunca vai saber, mas a conclusão é que só dá pra vencer a química por meios ilícitos, e a turma do Godric conseguiu realizar esta façanha graças a uma intervenção divina, pois após este fato ninguém mais acreditava na Química, somente no poder de Deus.

#16 - O aluno desletrado

O aluno desletrado

Esta é a história de Janaina, uma jovem garotinha que resolveu entrar para o Ensino Superior e fazer uma faculdade de Letras em uma cidade no interior de Mato Grosso do Sul, para poder aprofundar no seu sonho de estudar literatura. A princípio, ela idealizou que o ambiente escolar seria o máximo: jovens no corredor declamando versos de Camões ou de Vinícius de Morais, haveria um clube de discussão literária sobre Machado de Assís e as pessoas conversariam apenas em línguas estrangeiras exóticas. Coitada.
Chegando à sala de aula, havia 40 vagas para o curso e somente 32 duas haviam sido preenchidas, ou seja: bastava assinar o vestibular para entrar. E no final deste causo, Janaina tinha certeza que um de seus colegas de classe errou na assinatura de seu nome. No primeiro dia, na hora das apresentações, o professor pergunta:
-Por que vocês estão fazendo este curso?
- Eu queria Geografia, mas não abriu turma.
- Eu queria História, mas não abriu turma.
- Eu não passei em Medicina Veterinária, minha primeira opção, e também não passei em Administração, minha segunda opção, então vim para este curso.
- Eu comecei a fazer Fisioterapia, mas achei muito difícil, então larguei e resolvi fazer um curso mais fácil neste ano.
Aquilo quebou o espelho subjetivo de Janaina com tanta força, que ela queria cortar os pulsos e sair correndo pelos corredores pelada.
Mas ela ainda iria persistir, faria o seu papel e foda-se os seus coleguinhas de classe. Havia muita gente boa sim, mas os poucos ruins, eram ruins demais. Um dia, o verdadeiro protagonista da estória, fez uma pergunta:
- Professor, para tudo! Não estou entendendo nada desse trem ae.
- Sim Josias, desde que ponto você não entendeu?
- Tudo! Esse lance ae de primeira pessoa do singular, segunda pessoal do plural, não entendi nada!
Apocalipse, please.
Haviam também os trabalhos em grupo. Houve um teatro em que era para Josias ser um personagem de Hamlet. A função dele no teatro era: você se esconde atrás da cortina, a Janaina vai te dar uma espadada, você cai no chão morto. Os outros membros do grupo já haviam recomendado para não deixar Josias com muitas falas, pois ele não dava conta de decorar, mas a coisa era pior do que aparentava.
Na hora do teatro, lá estava Josias escondido atrás da cortina, quando entra Janaína fantasiada de Hamlet. A protagonista começou a dar estocadas em Josias, mas este não fazia nada, andava de um lado para o outro atrás da cortina. Janaina continuou com as estocadas, e nada de Josias morrer. Janaina então percebendo que ele havia esquecido sua fala (cena), proclama para o público: “Então, eu matei este farsante!” e prossegue com o teatro, no improviso. Quatro cenas adiante, sai Josias de trás da cortina e fala:
-Ai gente, desculpa! Me deu branco e eu esqueci de morrer!
Apocalipse seguido de Dilúvio, please!
Teve também um trabalho em dupla. Como ninguém queria fazer com Josias, sobrou para Janaina fazer trabalho com ele. Para fazer com que Josias se sentisse útil, Janaina pediu que ele copiasse as respostas. Ditado vai ditado vem, chega um momento que Janaina fala:
- Então, Padre Antônio diz que eles eram bons ladrões entre aspas - e faz o gesto com os dedos - pois eles roubavam... - nisso seu olho dá uma escapulida para o texto que Josias copiava e vê que ele colocou parênteses no lugar - peraí, eu disse aspas.
- Pois é, eu coloquei as aspas - e Josias passa o lápis para mais uma camada de burrice por cima dos parenteses já traçados.
Apocalipse seguido de chuva de merda, please!
Ae chegou a aula de literatura, dia da ficha de leitura sobre o livro I-Juca Pirama. A professora pergunta:
-Pessoal, o autor cita o nome do protagonista do livro?
Uma aluna exemplar responde:
-Não cita não professora. Ele passa o livro inteiro sem dar nome pro índio e tal...
Até que Josias interrompe:
-Fala sim! – e continua vasculhando o livro, para tentar dar um palpite relevante na discussão e ganhar seus pontos – aqui ó, página 1 (até onde ele conseguiu ler), “seu nome, era icógnito”. Tá vendo, o índio se chamava Icógnito!
Apocalipse cristão, asteca e maia, seguido de dilúvio, please!
Houveram algumas manotas menores de Josias, como na aula de recurso anafórico em que estavam substituindo as repetições em um texto por pronomes e ele pergunta:
-Posso substituir cavalo pela palavra animal?
E teve também quando eles estavam cursando a aula de psicologia cognitiva e a professora falava sobre o déficit de atenção e Josias aproveitou esse gancho pra justificar sua burrice:
-Eu tinha isso quando eu era criança!
“Só quando você era criança?” Pensou a sala em conjunto.
No último dia de aula, um professor chamou a atenção de Josias e falou:
-Vou botar uma frase no quadro, se você me responder a pergunta que vou fazer corretamente, saio daqui feliz. – E o magister escreveu “João brigou com Maria” – Josias, qual o sujeito e o verbo nesta frase?
-Uai o sujeito é brigou? O verbo é Maria?
Apocalipse maia, asteca, inca, budista e cristão seguido de dilúvio e do show do Restart, please!
O professor achou que era zueira, mas não era.
Todos se formaram e Josias ficou pra trás. Mas ele sempre afirmava de pés juntos que já estava graduado e que só não tinha pego o diploma ainda pois estava devendo duas mensalidades na faculdade, que iria quitá-las para depois sair lecionando. LECIONANDO.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

#15 Um professor em siladas

*Esta história tem um conteúdo pornográfico imenso. Se você é menor de 18 anos de idade não leia esta postagem. Entre no site www.turmadamonica.com.br que lá é o seu lugar. Eu já não posso mais falar bobagem no facebook pq tem alunos e mãe de alunos me seguindo, então meu blog é o único lugar que eu posso xingar a vontade, não me tirem esse direito!
**É tudo ficção, já cansei de falar isso. Qualquer semelhança com nomes e personagens é mera coincidência.

Um professor em siladas

Ser professor não é para qualquer um. Ainda mais quando se tem seus vinte e poucos anos, recém formado, e é chamado para dar aula no Ensino Médio, onde os alunos diferem-se da sua idade por no máximo uns três ou quatro anos.
Aula vai e aula vem, tem sempre um demônio em cada sala. Mas havia uma sala em que o Rei dos Demônios habitava nela. Seu nome... era Capeta.
Primeiro dia de aula, chega o professor Lord Gago para lecionar numa turma nova de primeiro ano, na escola MonoCovarde. A turma parecia ser boa e interessada, mas até que um estudante alto, jeito molengo, entra com ar de realeza na sala, passando pelo professor sem falar nada, sentando-se na mesa, cruzando as pernas e com a voz mais ironica do mundo diz:
- Boa noite professor! Não vai me cumprimentar não? Prazer, meu nome é Capeta! Você é meio novo para dar aula não acha não?
Depois deste primeiro contato, já havia ficado bem claro para Lord Gago que aquele aluno significaria problema. Todo dia era uma piada nova: Capeta adorava narrar suas viagens, casos dos colegas de sala, as fofocas do recreio, imitar os professores, dentre outras peculiaridades. Uma coisa ninguém podia negar: o cara era um talento nato, melhor que todos os atores de Malhação e “humoristas” do Zorra Total juntos. Certo dia, na Semana Santa, uma estátua de uma santa iria visitar a escola e haveria uma novena no recinto. Lord Gago entra na sala e se depara com Capeta segurando uma vela vermelha:
- Professor, olha a minha vela.
Lord Gago, que já julgava ter intimidade com o aluno, resolveu dar trela:
- Guarda isso aí menino, vão achar que você é macumbeiro.
Nisso Capeta já bate na mesa e grita:
- Ahhhhh, então quer dizer que o preto é macumbeiro! Se fossem as menininhas branquinhas aqui com uma vela todo mundo estaria dizendo: “Nossa gente, olha lá que gracinha, tão devota essa menina!” – mas o preto não, o preto com vela é macumbeiro! O branco veste roupa branca “nossa gente, ele é doutor!” eu saio de branco na rua sou pai de santo...
Nisso ele criava um monólogo e a turma passava mal de rir e até Lord Gago caia na rede dele. Era talento demais para um aluno, se não pode contra ele, junte-se a ele, como já dizia Caio Fernando de Abreu.
Mas havia casos em que não dava para deixar Capeta fazer o que quisesse na sala de aula, pois suas gracinhas superavam alguns limites como no dia em que ele chegou na sala já cantando o ABC da Putaria: A de anal, B de buceta, C de caralho, D de deixa eu te comer, E de .... . Sem contar quando ele inventava crises epiléticas, botando meio palmo de língua pra fora, sacudindo a cabeça e babando por todos os lados. A cena era nojenta e causava vômitos. Depois de limpar o cuspe com a mão, ele ainda fazia questão de esfregar a mão lambuzada de cuspe no braço de um colega.
A máxima do Capeta foi quando um dia no meio da aula, ele gritou “Ai professor, gozei! Foi mal, não deu pra segurar, gozei!” Nisso Lord Gago olha para o menino com cara de espanto e ve que ele estava com um líquido branco escorrendo entre as mãos e no rumo da sua área pélvica. Assustado, o professor já começa a xingar:
- Que quê você fez criatura? Cade o respeito? Tem meninas na sala! Manera nesse seu vocabulário se não vou te mandar pra diretoria....
Nisso Capeta dá uma risada falsa e irônica e complementa:
- GOZEI COM A SUA CARA! Eu derramei cola no meu colo e você que tá pensando em bobagem!
Sala de aula 12.458 X 0 Lord Gago. Este foi o placar do duelo. Não tinha como enfrentar... o cara era um líder nato! Até o professor iria querer ser da sala dele para poder ficar rindo das gracinhas.
Quando Capeta faltava, a sala inteira ficava olhando pela janela, na esperança dele chegar correndo, dançando, pulando e interromper a aula. Sempre alguém puxava um flashback: “e no dia em que o Capeta dançou forró com a diretora?” “e no dia em que ele fez um teatro e ele era o personagem tal”... e assim proseguiam as lembranças, sempre seguidas de risos.
Mas um dia foi demais para Lord Gago. Estava este tentando ensinar pronomes reflexivos e o Capeta não calava a boca nem um minuto sequer e a sala nem notava a existencia de um professor parado ali na frente. O professor, então, apelou com ele e falou:
- Vocês vão ter que escolher, ou olham pra mim ou prestam atenção nas gracinhas do Capeta. Não consigo disputar com ele, esta é a matéria da prova de segunda e vocês não sabem ainda. Então escolham, não dou aula com vocês olhando pro Capeta.
A sala, ameaçada com a ameaça, focou-se no professor. Capeta, sem graça, ficou um tempo calado, até resolver conversar com seu reflexo no espelho, interpretando dois personagens:
- E aí cara, você vem sempre aqui?
- Sim e você?
- Sempre! Está gostando desta aula?
- Sim, mas o professor pegou no meu pé, e você?
- Eu já estudei isso na minha escola, é fácil esta matéria.
Lord Gago apelou com aquilo e mandou que Capeta desaparecesse da sua frente e fosse pra diretoria. Capeta pediu desculpas e prometeu comportar, mas enquanto o mestre escrevia no quadro, o aluno se levantou, estufou o peito e disse:
- Quer saber professor, eu vou sair! Não quero ficar mais nesta aula, cansei! - E Capeta sai trinfante pela sala de aula, até chegar na porta e complementar – tenho nojo desta sala de gente mesquinha e insignificante que não me compreende.
Para selar suas palavras, Capeta cospe no chão da sala e sai correndo, pulando o muro da escola em seguida. Lord Gago ficou sem palavras, demorando um pouco pra acreditar no que ele vira. Chamou a supervisora na sala e esta prometeu que puniria o aluno e que faria com que ele me pedisse desculpas.
Mas Capeta não voltou pra sala de aula... ele já sabia que começaria a trabalhar e mudaria de turno, por isso fechou o seu último dia na sala tatuando para sempre uma despedida na memória de seus colegas de classe. Lord Gago ainda tem vontade de um dia encontrar o Capeta na rua, para uma conversa casual sem o vínculo de professor/aluno. Com certeza ele vai rir pela primeira vez em liberdade.

* Eu sei que cilada é com C, há um trocadilho no título do texto que só quem fraga fraga

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

#14 - O misterioso sumiço das tremps

O misterioso sumiço das tremps


Há um ditado juvenil que diz: pais fora de casa, amigos fazendo festa dentro de casa. Foi este o cenário da dor de cabeça no dia seguinte na vida de Nelinho.
Estava ele fazendo um bico natalino de férias, muito entediado, até o momento em que alguns de seus amigos foram no hotel em que ele trabalhava fazer uma visita amigável. Conversa vai, conversa vem, o tempo passando mais rápido e nenhuma ideia de festa para aquela noite surgia. Até o momento em que o telefone faz o favor de tocar, anunciando as palavras que todo jovem gosta de ouvir: “Filho, eu e seu pai estamos indo viajar, vamos passar a noite fora, toma conta da casa okay?”.
Nem precisa dizer que este okay foi recheado da mais pura mentira negra. Mal acabara de botar o telefone no gancho e Nelinho já anunciava: festa na minha casa galera, a partir das 8 horas e sem horário para acabar.
Na mesma hora seus amigos já se espalharam e cada um foi pra sua respectiva casa tomar banho ou pegar dinheiro pra noitada. Outros nem isso fizeram e já resolveram subir direto acompanhando Nelinho. Em menos de uma hora, todo o gueto já estava avisado e geral já se reuniara pra subir o morro.
A festa foi como qualquer outra: gritos, brigas, pessoas tontas dando trabalho, pegação no sofá da sala etc. A primeira briga começou quando Wesley resolveu fazer gracinha e tacar água do potinho de guardar a escovinha de limpar o vaso sanitário no Ismael. Este, furioso, retribuiu jogando um copo de suco de açaí na camisa branca de Wesley. O coitado teve que pagar cinco reais para o Fudido levar ele em casa para trocar de roupa.
Algumas meninas estavam com uma brincadeira indecente de colocar alho, tampinhas de garrafas, rolhas e outros apetrechos nas bolsas uma das outras. Brincadeira mega infantil. Outros estavam ansiosos para irem na boate Death curtir um show da banda Tríade e alguns nem sabiam o que faziam naquela festa.
Quando a festa ficou desanimada, Nalore teve a compaixão de limpar o fogão que estava sujo graças ao macarrão que havia sido preparado ali e Nelinho pediu ao Leão que pusesse as tremps e as tampas de volta no lugar. Passado uns instantes, Leão chega pra Nelinho e avisa que ele havia encontrado apenas quatro das seis tremps. Como o pessoal estava todo indo embora pra porta da Death sem se despedir de Nelinho, este ignorou o sumiço das tremps e foi correndo com seus amigos curtir a vida adoidado.
Na porta do show, os festeiros encontraram mais alguns conhecidos, farrearam e depois partiram para suas moradas. Havia seis pessoas para irem embora no carro do Fudido, então a solução foi colocar o Jiraya no porta-malas. Nelinho voltou a pé, e quando chegou à sua casa já viu uns twittes de seus amigos: “A polícia barrou nois, e o Jiraya ta no porta-malas, tamo lascado” e um twitte do próprio Jiraya “Meu Kami-sama! A polícia parou a gente e eu to no porta-leo, o que será que está acontecendo?”.
Minutos depois o pessoal da carona chegaram ao seus lares e contaram que estavam felizes demais a cantar pelas ruas, até que a policia pediu que eles parassem e justificassem o motivo de tamanha alegria. “Por um acaso vocês sentaram em algo que deixaram vocês felizes?” perguntou o policial. A resposta dada por Lancelot foi lendária: “Nois tá é feliz seu moço!”. O guarda até desistiu de multá-los depois desta.
Nelinho começou a limpar a sua casa e foi dormir, até acordar no dia seguinte e lembrar que suas tremps haviam sumido. Sua mãe chegaria em poucas horas e se ela visse que faltava algo no fogão iria exigir uma desculpa pra tal sumiço e com certeza descobriria sobre a festa dada em seu lar durante a sua ausência. Puto, Nelinho começou a fazer um negro drama na internet e ligou para todos os convidados para ver se alguém tinha feito uma piadinha de péssimo gosto para zoá-lo. Por ter visto as meninas escondendo coisas na bolsa uma da outra, tinha 78% de certeza que alguém teria feito a mesma piadinha com as tremps. Sem contar que semanas antes algums amigos roubaram uns Pokemons do Telha, e este prometeu que em toda casa que ele visitasse depois disso iria catar algo insignificante e sem valor, para descontar os furtos cometidos na casa dele.
Os amigos negavam até a morte, enquanto Nelinho procurava também até a morte. Até que em sua jornada em busca das tremps ele achou uma latinha de cerveja vazia dentro do raque da sala. Aquilo foi a gota d’agua. Se alguém tinha tido a malícia de esconder uma latinha ali, roubar as tremps não seria nada comparado com as trollagens que ainda poderiam estar por vir.
Desesperado e tentando chantagear alguém até aparecer as tremps, Nelinho começou a acusar todo o mundo e exigiu que cada um pagasse um real para a compra de novas tremps. Mesmo assim ninguém assumiu o crime. Até procurar na sacolinha de lixo o coitado procurou, e nada. Sem contar que o povo ficava acusando os outros, o que deixava Nélio mais puto ainda. “Acho que o Brita de Pains levou elas, viu” “Acho que a Narelo botou na bolsa e levou”.
Tempos depois, um grupo de amigos resolveu ir até a sua casa para ver se achavam essas benditas tremps. Chegando lá eles procuraram em todos os lugares, e nada. Até que o grupo decide ir até a cozinha para restituir o crime. Nelinho narrava: “A Norela lavou e botou pra secar, Leão veio e terminou de limpá-las, enxagou as mesmas e botou de volta no fogão. Neste momento elas já haviam sumido”. Eles ficaram um tempo parados pensando até que a única mulher do grupo, a Anaconda, olha para o fogão e diz:
- Quem colocou estas tremps colocou errado.
Enquanto ela foi organizar as tremps, uma delas cai de dentro da outra. Os cinco ficaram atônitos com tamanha idiotisse e foram embora sem falar nada. O idiota do Leão, quando foi botar as tremps, nem notou que havia dois pares de tremps garradas uma na outra e já foi botando-as no fogão.
Ninguém comentou mais sobre o fato de tão vergonhoso que ele havia sido para todos, até o momento que o Brita resolve ligar a webcan e mostrar as tremps do fogão da casa dele falando “seu bobão, as tremps estão comigo”. Mas o caso já havia sido solucionado e Nelinho agradeceu a Deus por Brita ter feito essa brincadeira tarde demais, senão ele já teria desistido da vida bem antes e iria viajar até Pains para buscar essas tremps de volta atoa.

sábado, 17 de setembro de 2011

#13 - Traição Desumana

Traição desumana

Era uma história de amor, de aventura e de magia. Até chegar uma dura e cruel traição. Tudo começou em meados dos anos 2000, quando João Roberto se apaixonou por Nevassa. Foram longas e tortuosas horas de cartas trocadas, cantadas baratas no MSN, bolos em encontros, encontros sem resultado, conversas com as amigas dela, implorando por ajuda, até que um dia ele consequiu conquistar o coração da donzela, por meio da insistencia banal.
Só que este foi o primeiro passo para o precipício. Aquele espelho subjetivo dos corações apaixonados é facilmente destroçado em migalhas quando começa a terrível palavra “convivência”. Mas plagiando Bob Marley “Tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas”, agora já não tinha mais volta: João Roberto havia feito Nevassa se apaixonar por ele, e agora livrar-se dela seria uma tarefa dura e árdua.
Sem saber o que fazer, restavam as brigas. Briga de manhã, tarde, noite e às vezes durante o café da manhã, almoço e janta também. Mas vira a mexe a situação se invertia e João Roberto queria voltar, era um caos que nem o programa da Márcia conseguiria consertar.
Em um dos términos, João Roberto recebe a notícia de uma amiga: “Você viu, a Nevassa ta namorando!” Aquilo doeu. Mesmo com todas as brigas, ele nunca pensou que um dia, do nada, ela iria seguir adiante e esquecer o relacionamento deles, ficando com outra pessoa. “Só pode ser mentira, defendeu-se. Ela está espalhando isso só pra me passar ciumes”, foi a defesa de João Roberto.
“Não! Já até mudou o status dela no Orkut”. Agora a coisa ficou séria! Orkut vale mais que aliança no dedo e nome registrado no livro do padre. “Deve ser só pra me passar ciumes, até eu posso ir lá e colocar namorando no orkut pra causar polêmica” retrucou o cara com dor de cotovelo.
“Tem foto do cara lá”, continuava a amiga.
“Deve ser um amigo viadinho. Chamou ele pra causar ciumes”. Continuava firme e forte João na fase de negação.
“Mas eles estão beijando na foto!”
Agora o mundo caiu. Ligou o computador e foi correndo pra internet vasculhar o orkut de Nevassa. Clicando em seu perfil, a primeira coisa que viu foi a foto dela beijando um homem branco, camisa com gola azul. Não mostrava os olhos do rapaz, apenas as duas bocas, na mais perfeita união.
Pensou em ligar para xingá-la, mas ela não devia satisfação. Fora João Roberto mesmo quem terminara. Agora não sabia o que fazer e o ciume corroia seu corpo. Olhou mais uma vez a foto, na tentativa de descobrir quem era o outro, que era melhor do que ele para ser escolhido como novo dono do coração de Nevassa.
Em todas as fotos, o cara estava apático. Até que notou em uma foto em que os dois estavam abraçados, que os dedos do cara eram todos colados. Ele tinha um amigo que tinha dois dedos colados, mas os quatro? Ae era demais. Lembrou-se que a mãe de Nevassa tinha uma loja de roupas... foi tiro e queda! Arriscou o palpite de que aquilo não era um ser humano porcaria nenhuma e sim um MANEQUIM!
Na hora ele ligou pra Devassa e já foi logo atacando “Que história é essa de você me trair com um manequim?”. Ela disparou a rir e João Roberto não sabia se ria da burrice da menina ou se ficava com raiva da hora que ela fez com a cara dele.
Depois disso, ela continuou alegando que o Manequim era o parceiro ideal, pois estava sempre duro, jovem, não dava palpites em nada, ouvia ela o dia inteiro, estava sempre bem vestido, não peidava, não arrotava, não mijava sem abaixar a tampa do vaso, não fazia ela buscar cerveja na geladeira...
Com tantos argumentos, João Roberto até se sentiu feliz por sido trocado por um homem dezenas vezes mais perfeito que ele. E assim terminou uma breve história de amor.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

#12 - Seshoumaru

Podem acreditar, já ouve uma época em que relacionamentos sociais eram escassos e que não diferenciavam muito de falar com o próximo ao telefone, aparelho este que era essencial para fazer uma conexão com internet de 56kbs (E hoje essses leites com pera reclamando da net de 600). O primeiro comunicador instantâneo era o conceituado ICQ, onde você ganhava um número e, adicionando o número de um terceiro, você podia conversar com ele em um chat. O ICQ não tinha fotos e pra mandar um arquivo demorava-se décadas. Era um inferno. Mas ele tinha uma vantagem: o mistério. Você ficava louco pra tentar conhecer aquela menina que dizia ser loira dos olhos azuis na vida real, e que na verdade ela era loira dos olhos azuis, mas cospia fogo.
Achar as pessoas no ICQ era um dilema. Todo mundo ficava sassaricando pra conseguir o número de alguém, ao contrário de hoje que as redes oferecem uma vitrine de toda a sua vida para qualquer estranho poder ser seu stalker. Era muito comum encontrar números de ICQ anotados nas carteiras da escola. Todos anotavam aquele número e esperavam ansiosamente pra chegar sábado às 14 horas pra conectarem na net, pois era o horário em que a conexão ficava mais barata, para “TC” com aquela pessoa icógnita.
Até ae tudo bem, mas e quando você queria conversar com pessoas que compartilhavam os mesmos gostos que você? Aí a coisa apertava.
Makoto era um garoto que curtia uns “desenhos japoneses” (antes da palavra anime existir) e que começou a comprar as “revistinhas” dos cavaleiros do zodiaco (antes de mangá cair na boca do povo) e conhecia apenas duas pessoas que gostavam dessa parafernálha: Shirou e Subaru. Os três sentiam-se isolados no mundo, achavam que só eles no planeta, e uma prima distante de Shirou, lendária, que curtiam essas novidades. Só que os três eram pobres e não tinham cartoon network pra assistir o único desenho exclusivo do canal que a Manchete ainda não tinha passado: O Cão Demônio. Depois que a febre de Dragon Ball acabou, as revistas do gênero só falavam desse desenho. Eles começaram a se sentir ainda mais por fora do mundo, até que conheceram o paraíso chamado bate papo da Uol, sala “anime e mangá”.
Das trinta pessoas que podiam participar do chat, vinte e sete estavam com nicks de personagens do Cão Demônio. Conversa vai conversa vem, Makoto fica amigo de um cara com o nick de Seshoumaru e os dois trocam números de ICQ. Todo sábado, Makoto ficava ansioso pra ver Seshoumaru conectar pra que ele lhe contasse o resumo de Cão Demônio no Cartoon Network (naquela época não tinha como baixar um episódio em menos de um mês de download no Kazaa, e nem sites com resumos de episódios, wikipédia e afins existiam, só pra constar em ata). Seshoumaru tinha uma paciência do cão e escrevia altos resumos que fazia com que Makoto se sentisse assistindo a série e ele até arriscava discutir o desenho com o povo no chat do Uol.
Certo dia, Seshomaru resolveu mostrar o ápice da tecnologia ao mandar uma mensagem de voz pro pessoal de MKVerópolis ao mandar um arquivo de winamp com os dizeres “Ae galera, gostaria de mandar um abraço pro pessoal de MKVerópolis, flow”. Os amigos virtuais dele acharam o máximo e sentiram que o cara era muito descolado.
Porém um dia Seshoumaru veio com a bomba pra cima do seu amigo virtual: estou indo te visitar amanhã. Makoto ficou em prantos, não sabia como reagir. Internet ainda era um absurdo naquela era e como avisar pra mãe que um estranho estava vindo de um lugar muito distânte pra lhe conhecer. COMO? Depois Makoto fraguou que ele queria vir pra conhecer duas amigas que Makoto havia passado o ICQ pra Seshoumaru. O que as duas falaram ou prometeram pra ele, deve estar armazenado em algum histórico de conversa por ae, mas Makoto nunca irá saber.
Makoto tentou desconversar, porém Seshomaru estava firme e forte em sua designação e já deixou bem claro que iria ficar em um hotel. Ele só precisava de alguém que fosse buscá-lo na rodoviaria 6 horas da manhã. Mas quem teria coragem de ir buscá-lo? Makoto ficou louco com a ideia e ficou pedindo ajuda desesperado no ICQ, até que seus amigos Subaru e Shirou resolveram pedir suas mães para poderem acordar cedo no domingo e irem lá buscar o viajante. Um outro amigo, 1berto também resolveu ajudar o grupo.
Na manhã seguinte eles chegaram na rodoviária, porem Subaru estava ausente. Sua mãe havia lhe passado um sermão sobre esses encontros virtuais. “Vai que ele é um assaltante, um punk, um skinhead? O que você vai fazer?”. Mesmo assim o trio ficou esperando um ônibus vindo de um outro estado chegar. A única referencia que eles tinham era que o cara usava óculos. Os quatro estavam morrendo de medo, quando menos se espera um cara baixinho, quadrado e de óculos chega e diz: “você que é o Makoto?”. Os quatro ficaram sem palavras por um tempo até responderem e sairem mostrando a cidade pro cara. A primeira coisa que ele queria fazer era conhecer as meninas. A trupe foi para a casa da primeira, ela fingiu que estava dormindo. Ligaram pra segunda, ela falou que estava trabalhando. Chegando em casa a primeira liga para Makoto e pergunta “ele é bonito?” Makoto fica sem graça e acaba respondendo que ele não é lá uma coisa muito linda, mas é gente boa. Depois disso as meninas não quiseram mais vê-lo. Forever alone e deslocado, Seshoumaru faz amizade com Celomar, um nerd como ele e os dois passam dias e noites discutindo sobre matemáticos e engenheiros. A amizade floresceu e a vinda e a vida de Seshoumaru fez sentido.
Makoto aprendeu uma lição: nunca mais faça amigos virtuais. Mulheres dão em cima deles e depois sobra pra você hospedar a marmita. Sorte que não era um estuprador, senão a coisa ia ficar feia.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

#11 Vampiragem

Esta história teria mais graça se fossem dois amigos tentanto trollar um ao outro, mas não foi. Tudo começou em uma noite de lua cheia, quando Jacó resolveu sair pra beber com os amigos. Jacó era pobre, não tinha condições de se embriagar nos conformes, então ele e sua gangue fizeram uma vaquinha para comprarem um vinho chapinha de cinco litros para se distrairem. Jacó ficou sentado na Praça esperando os drinks chegarem enquanto alguns amigos iam no carro de Edward até o buteco mais próximo comprar o veneno.
Enquanto Edward não voltava, a praça ia se completando com pessoas de todas as vibes, afins de um papo cabeça e de um calor humano. Uma destas pessoas era Blade, um garoto descolado e com um nível financeiro um pouco maior que os demais. Ele estava bebendo um vinho de marca boa com seus camaradas, até o momento que Eduardo volta com seus amigos e com as bebidas em uma sacola. Jacó, sedento por alcool, levanta correndo e sem perceber dá uma bicuda na garrafa de vinho de Blade, estraçalhando-a em mil e vinte seis pedaços. O garoto ficou bastante sem graça e não sabia o que fazer. O correto seria se oferecer para pagar outra garrafa de vinho, mas justo daquele vinho? Não podia ser um "genérico"? Sem saber o que falar, seus pensamentos foram aliviados quando Blade falou:
- Sem problemas, eu compro outro.
Aquele gesto de caridade fez com que Jacó ficasse profundamente agradecido e prometeu pra si mesmo que um dia, em uma ocasião especial, daria um bom vinho à Blade.
Eduardo, irritado com a burrice de Jacó começou a desferir ofensas de todos os calões para o amigo:
- Seu Jacu, mocorrongo, retardado, você deveria ser proibido de sair de casa, olha o que você faz, seu energumero - enquanto xingava, ele ia catando os cacos de vidro para que ninguém se ferisse com os estilhaços - sua mãe não te ensinou a olhar pra frente não? A bebida não ia sair do lugar o seu desgraçado, olha pra frente... ai desgraça!
A pregação foi interrompida com o leve som do vidro rasgando a pele da mão de Eduardo. O amigo havia acabado de se cortar com os cacos de vidro e sua mão jorrava sangue.
Jacó fez um idem ibidem de tudo que foi dito por Eduardo e o mesmo saiu pra beber seu vinho chapinha em outro lugar.
Conversa vai, conversa vem, a noite foi se aprofundando até que Eduardo decidiu ir pra casa.
Ele se despediu de todos, pegando na mão de cada um e foi embora.
Jacó já estava no seu sexto copo de vinho e decidiu servir mais um. Seus sentidos já o traiam e quando ele viu sua mão estava suja. Para não desperdiçar uma miligrama de vinho, lambeu todo líquido vermelho carmesin que escorria pela palma da mão e só depois de digerir que ele notou que aquilo não era vinho, e sim SANGUE.
Depois deste dia, Jacó tornou-se um vampiro que odiava sangue e seguiu sua vida, com muito medo de ser soropositivo e não saber.
Fim

domingo, 7 de agosto de 2011

#10 - Bolo molhado

(Fiz este post participando de um Hangout, então não me acussem de ser irracional.
Só queria deixar relembrado este fato, não dei conta de narrar o tanto que a cena foi engraçada, mas futuramente este post sofrerá uma edição)

Era um domingo de manhã. Os amigos haviam combinado de ir pra cachoeira, aproveitar o sol, as belezas naturais e um bom piquenique entre amigos. Tudo estava programado na mais perfeita harmonia, exceto a chuva que caiu logo no início da manhã.
Os amigos iriam se encontrar na porta do SAAE às 8 da manhã para de lá subirem para a cachoeira. Como a chuva, mesmo fininha já era uma chuva, começou por volta das 7, Naloi, a organizadora do evento, começou a ligar para todo mundo mandando que eles fossem para a sua casa e levassem os mantimentos para lá, e de lá nós veriamos se faziamos o piquenique na garagem ou se esperavamos o sol raiar. Como eram muitas pessoas, Naloi gastou um tempinho bom ligando para todos, até que quando ela ligou para Remi, ela teve a triste notícia:
- Uai, ele já saiu pro SAAE - confirmou a mãe dele - ele foi mais cedo porque ele passou a noite inteira fazendo um bolo pro piquenique, e não tinha ninguém pra ajudá-lo, então ele foi andando na frente pra ir carregando o bolo devagar.
- Se você conseguir falar com ele, avisa ele pra vir pra minha casa - finalizou Naloi.
A desgraça já estava feita.
Para quem não sabe, Remi era conhecido pelas suas habilidades culinárias e por ser um piadista nato. O problema era que ele era o paradoxo do humor. Quando estava de bom humor, era a pessoa mais amável do mundo. Quando algo fazia raiva nele, ele era capaz até de botar fogo em um membro da sua família (fato verídico). Uma vez, ele caiu de bicicleta no centro da cidade, ralou toda a sua costa, a bicicleta deu um nó de tão amassada e ele se levantou, catou a bicicleta, ou o que restou dela, e saiu correndo como se nada tivesse acontecido. Sem contar no dia que ele caiu no mata burro, mas isto sáo outras histórias.
Como celular não era uma coisa comum naqueles tempos, não havia outra solução a não ser deixar o Remi mofando lá até ele desconfiar que os seus amigos estariam na casa de Naloi e resolvesse descer.
A turma estava toda lá fazendo festa quando de repente Remi chega na casa de Naloi, cansado, com um bolo de dois quilos debaixo de braço e muita raiva na face.
Ele já recusou todos os cumprimentos e ficou puto por ninguém tê-lo avisado que era pra esperar na casa de Naloi e não no SAAE. Depois de muitas tentativas de justificar e de desculpar, Remi voltou a socializar com seus colegas e o piquenique foi servido, mas Remi não deixou ninguém comer seu bolo, alegando que ninguém o ajudou a carregar e que ele comeria o bolo sozinho.
Após o horário do almoço, o sol raiou e nós decidimos subir pra cachoeira. Remi pediu que alguém o ajudasse a carregar o bolo até a cachoeira, mas ninguém se dispôs a ajudar. A ira dele só aumentava e ele falou que ninguém iria comer o bolo dele, pois ele já havia carregado o bolo da casa dele até o SAAE, do SAAE até a casa da Naloi, e agora carregaria novamente da Naloi até o SAAE e depois disso até a cachoeira.
Com dó do esforço de Remi, vários amigos se ofereceram para ajudá-lo, mas o orgulho dele era maior que tudo e ele não aceitou a ajuda de ninguém, reforçando sempre a ameaça que o primeiro que lhe pedisse um pedaço de bolo iria tomar um soco na boca.
Chegando na estrada de terra, a turma de peregrinos tinha duas opções: subir pela correnteza, fazendo uma aventura radical e refrescante, ou ir pela estrada de terra até chegar ao topo da cachoeira. Nem é preciso citar qual foi a escolha do grupo: subir pela correnteza.
E lá estava Remi carregando o seu bolo, com água até nos joelhos. Quanto mais a turma avançava, mais a água ia aumentando e Remi não desistia.
A primeira expedição já havia alcançado o todo da cachoeira e estavam sentados em cima de uma pedra e a cena que eles viram ficou para sempre em suas memórias.
Remi estava com água até pra cima da barriga, e carregava o bolo sob a cabeça, com as duas mãos erguidas. Ele sabia que podia ir andando tranquilamente porque todos que estavam a sua frente nao tinham ficado completamente submersos, porém ele não contou com um fator: buracos.
Sem perceber, ele deu um passo em falso e a cena que todos viram foi apenas Remi desaparecendo dentro da água, levando o bolo junto.
Em menos de um segundo, como um vulcão em erupção, o cara saiu da água com o bolo nos braços e uivando ferrozmente, amaldiçoando todos ao seu redor. Os amigos não sabiam se riam, arriscando perder todos os dentes, ou se tentavam oferecer ajuda, sofrendo alguns ataques que os deixariam com fraturas expostas. O que reinou foi um silêncio profundo até que Remi solta uma exclamação: "Eu emplastifiquei o bolo, não tem problema, ainda dá pra comer."
Todo mundo sairia dalí com vida, era o que todos imaginavam.
Remi chegou até a pedra e começou a tirar o plástico, na esperança de que ainda desse para comer bolo. Assim que ele abriu o plástico, a água começou a transbordar e o bolo já se esfarelou. Antes que alguém risse, Remi já gritou:
- NINGUÉM, NINGUÉM ME AJUDOU A CARREGAR ESSE BOLO, AI SE ALGUÉM RECLAMAR QUE EU FUI O CULPADO POR DEIXAR ELE CAIR NA ÁGUA. O silêncio reinou neste dia, e nunca mais Remi fez outro bolo em sua vida.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

#09 "Vem aqui, que agora eu to chamando, vem meu cachorrinho..."

De graça, até injeção na testa.
Quem falou isso nunca foi à um show gratuito oferecido pelas Casas Bahia.
Em sua passagem repentina pela cidade de Formiga, a loja deixou para alguns habitantes um legado de memórias inesquecíveis durante o dia da sua inauguração. Para agregar clientes, a empresa resolveu presentiar a cidade de Formiga com um show da cantora Kelly Key, que já não era mais uma sensação no momento mais ainda atrairia espectadores, doidos para verem uma ex-playboy ao vivo e em cores.
Três jovens, que não estavam dando a mínima para o show, resolveram ir até o espetáculo com o intuito de zoar a dita cuja. Combinaram de se encontrar às 7 horas da manhã para prepararem um cartaz pra chamarem a atenção da cantora durante o show. Sem saber o que escrever, resolveram colocar apenas os dizeres "Kelly Key nós te amamos". Achando piegas demais, resolveram incrementar com uns desenhos de uns pentagramas e de algumas pirocas.
Ao chegarem no local do show, agendado para as 9 da manhã, uma multidão já se acoplava na avenida Bernades de Faria. Andar já era impossível. Crianças choravam de ansiedade para terem a chance de verem a sua ídola.
Minutos antes do show, o anunciador pede que o povo vá para o outro lado do caminhão para que o show seja realizado do lado de lá. Essa afirmação feita por ele mais grave do que o soar das trombetas do apocalipse. Milhares de pessoas começaram a se empurar, na tentativa de moverem um passo e a empurração foi tanta que crianças caiam e começavam a serem pisoteadas, e ninguém tinha força para empurrar a multidão para trás e tentar erguer as pessoas morrendo no chão. O narrador tendo em conta o erro que cometera, salvou o mundo e voltou atrás na sua palavra, pedindo ao povo que permanecesse nos seus devidos lugares, a Kelly Key faria o show virada pro rumo da praça mesmo, para o bem da humanidade.
Após vários minutos de ansiedade, a "cantora" sobe ao palco e começa a "cantar" um de seus sucessos. O engraçado era que o playback era escrachado. Ela parava de dublar no meio da música e cumprimentava o povo, fazia uma propaganda das Casas Bahia e por aí vai.
Na segunda música, os três jovens, que agora era quatro pois haviam encontrado mais um amigo, resolveram levantar o cartaz. No meio de dez mil pessoas, um cartaz é erguido. Assim que o cartaz subiu, as vaias foram entoadas. Envergonhados, os quatro enrolaram o cartaz e ficaram muchinhos, vermelhos de vergonha, afinal, ter uns 19 anos e estar no show da Kelly Key já é um mico.
Mas eles ainda queriam trolar, só não sabiam como.
Tempo depois uma criança estava sendo esmagada contra um caminhão. A cantora, vendo o martírio da criança, pediu a um segurança que a acudisse. A criança foi salva e disse ao segurança que queria entregar uma cartinha para a Kelly Key. Comovida com o amor da criança, a ex-mulher do Latino pediu que a mesma subisse no caminhão para entregar a cartinha pessoalmente.
Ao analisar o sonho da garotinha se realizando, não deu outra. Os quatro jovens levantaram mais uma vez o seu cartaz. Por espanto, a cantora viu o cartaz e leu, com muito custo, os dizeres em voz alta: "Kelly Key, nós te amamos". Na hora ambos os dois pares pensaram "por que diabos não escrevemos Kelly Key, vai se fuder". Ela virou para o primeiro deles e disse:
- Você ae, cabeludinho de azul, sobe aqui e me entrega este cartaz.
O Bafu, ficou espantado pela garota ter dito o seu nome e ficou imóvel, sem saber como agir.
Ela viu que ele não subiria e chamou o próximo:
- E você ae, de cinza, como se chama? Nossilaw? Então sobe aqui e me dá esse cartaz!
Nossilaw também ficou atônito, ele era grandinho demais e estava com vergonha da cantora virar e cantar "vem aqui, que agora eu to chamando, vem meu cachorrinho..." e passar o microfone para Nossilaw continuar a canção.
Sem dar o menor sinal de vida, a cantora passou para o próximo.
- Então vem aqui Risadinha, me entrega o seu cartaz.
Ele, mais espuleta que os outros, saiu e subiu no caminhão e ficou lá parado sem saber. A cantora abraçou o Risadinha e o mesmo passou inveja em metade da cidade. Mas a alegria dele foi por água abaixo quando a mesma tirou onda e disse pra cidade inteira ouvir:
- Gente, ele ta tremendo assim ó...
E fez movimendos pélvicos de vai e vem pra simular o tremor.
Após isto, as vendas no setor de papelaria subiram 279% em dois minutos. Todo mundo correu ate a papelaria mais próxima, pra comprar cartolina, pincel e fazer um cartaz pra tentar chamar a atenção e ganhar um abraço da ex-playboy.
Após este evento, começaram a chover cuecas em cima do caminhão, arremessadas por amigos que estavam assistindo o show dos prédios locais. A confusão ainda durou mais um tempo quando a celebridade tentou correr do caminhão do show até o carro que a levaria em segurança até seu destino.
E foi assim que a kelly Key fez sua passagem por Formiga. Ela levou um cartaz de lembrança de algumas pessoas, mas deixou um causo pra ser contado a vida inteira.

domingo, 24 de julho de 2011

#08 "Você que é o cara que está comendo o meu filho?"

A cada geração que passa o linguajar entre os jovens muda e não há "pais modernos" que consigam acompanhar os jovens nos coretes.
Expressões surgem e desaparecem como um hit pop e raramente sobrevivem tempo suficiente para serem anexadas às páginas de um dicionário.
E no âmbito masculino, existe uma espécie de brincadeira que é a de sempre chamar o seu melhor amigo de viado, gay, baitola, bicha e demais adjetivos homosexuais.
Sem maldade é claro e muito menos sem preconceito, já que se você acusa seu melhor amigo de ser um viadão e você anda com ele, logo você também pode ser um.

Mas numa destas brincadeirinhas, um cara se deu muito mal. Estava Cafu no MSN, conversando com um amigo, nomeado Pedro (Fictício), quando o mesmo virou pra ele e disse:
- Pô cara, vc sumiu daki de ksa, to numa saudade de comer seu c%zin&o denovo.

Antes que desse tempo de Cafu responder com palavras de amizade este comentário, sua mãe pediu-lhe que fosse ao açougue comprar carne. Cafu minimizou a janela e saiu para cumprir tal tarefa.
Porém, seu pai precisou olhar algo na internet e entrou no PC de Cafu.
Ele não resistiu ver aquela janelinha do MSN piscando e clicou na janela de conversação com o Pedro.
Ao ler aquele convite, os olhos do pai de Cafu se enxeram de água. Ter um filho gay é a maior decepção de todo o pai.
O Pai de Cafu ficou cabreiro com aquilo e não sabia como falar com o filho. Ele sentou com a mãe para discutir o fato e os dois foram levantando hipóteses:
- Este menino nunca trouxe uma namorada pra casa - começou o pai, fazendo a análise - tem cabelo grande, assiste Malhação, sei não viu, acho que ele é gay mesmo.
A mãe, querendo contribuir com a suspeita, afirmou que sempre encontra as cuecas de Cafu com buracos na região anal.
Os pais ficaram desesperados com a situação e chamaram Cafu pra conversar.
O garoto, sem saber do que eles estavam falando, alegou que era só um "corete" uma "zoação" do amigo Pedro e que suas cuecas estavam furadas porque a sua cachorra as atacava quando elas caiam do varal.
Os pais nem os demais leitores acreditaram nesta versão dele e ficaram cada vez mais encucados por terem um filho gay. Só que para alegria de Cafu, a história estava somente entre quatro paredes, assunto de família e ele tinha certeza de que isto nunca chegaria aos ouvidos de seus colegas.
Até que um dia dois amigos tocaram a campainha de sua casa...

Pedro, apelidado de Sasuke, e Tiago, apelidado de Sagat, resolveram chamar Cafu pra sair, em uma tarde de domingo.
Os dois tocam a campainha quando a mãe de Cafu atende e diz:
- Pois não?
- O Cafu tá ae?
- Está, quem quer falar com ele, quem são vocês? - pergunta a mãe, com um tom de voz zangado.
- Eu sou o Sagat
- E eu sou o Sasuke
- Não quero saber de apelidos! Quero o nome de verdade, eu perguntei O NOME porra!
Surpresos com aquela expresão, os dois amigos foram logo respondendo:
- Eu sou o Tiago - Sagat se apresentando
- E eu sou o Pedro...
- Ah, então você que é o cara que tá comendo o meu filho!
Os dois amigos ficaram atônitos. Um olhou pro outro e não sabiam o que dizer. "Como assim, Cafu é gay?"
Na mente de Sagat a dúvida ainda era pior: "Cafú é gay e o Pedro tá comendo ele?"
Eles não tiveram muito tempo pra pensar já que a mãe do Cafu continuou acusando:
- Escuta aqui, o meu filho não é gay e você para de ficar levando ele pro mal caminho e ficar atiçando ele, ouviu bem? Não te quero falando besteiras pra ele no msn...
Cafu ouviu a gritaria na porta da sua casa e entendeu na hora o que estava se passando e gritou:
- Calma mãe, não é ele, é outro Pedro!
Agora a dúvida foi de ambos os amigos: "Peraí, então REALMENTE existe um Pedro que está comendo o Cafu?"
A mãe ficou em silêncio e ela e o Cafu entraram pra dentro da casa pra discutir.
Sagat e Sasuke ficaram um tempo conversando, tentando adivinhar o que acontecera.
Instantes depois, a mãe de Cafu chamou Sasuke pra dentro e explica o mal entendido e pede desculpas pelo fato.
O Cafu pode não ser gay, mas que ele rendeu uma boa história para ser zoado por seus amigos isso ninguém pode negar.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

#07 - Merda Acontece

Tirando a Sandy, todo mundo caga. Todo mundo mesmo. Alguns têm a sorte de sempre sentirem vontade de defecar quando há um banheiro próximo. Outros, cagam sem vontade em lugares indesejados. Limpar a sujeira de bosta do corpo é fácil (mentira, dá um trabalhão e necessita de um estomago muito bem treinado), mas limpar a merda da reputação é impossível. Cicatriz de merda eterna. Para protagonizar esta tragédia sem sangue, sem estupros, sem violência e sem mortes, mas com um final tão trágico quanto o necessário para se enquadrar neste gênero teatral, apresentamos o vosso protagonista, um jovem chamado Snowlisa.
Snowlisa sofria de um distúrbio intestinal sem saber. Do nada lhe dava uma vontade terrível de cagar e não dava para segurar: se em cinco minutos ele não estivesse no banheiro, era bosta na cueca na certa! Ele demorou a se dar conta disso. O pior teve que acontecer, várias vezes.
No ambiente de trabalho, ele não tinha pudores para dar aquela cagadinha básica. Era só não demorar muito pra ninguém desconfiar e rezar para que ninguém entrasse lá dentro e sentisse o cheiro após a defecada. Na faculdade, também não enfrentara problemas, pois morava perto do local então dava pra fugir para a sua casa de boa. Na maioria das vezes, nunca era bosta concreta e sim um mijo com pouca sustança, tipo aquelas sopas de pobre: muito caldo, pouco complemento.
Uma noite, voltando da Praça, Snowlisa sentiu uma grande vontade de cagar. Faltava em média uns dez minutos para ele chegar na sua morada. Não sabia o que fazer. Soltou um leve peidinho que mesmo em pequenas proporções foi capaz de pintar um Miguelangelo na sua cueca. Com medo de dar vacilo, começou a correr quinem um louco. Uma hora ele sentiu que não ia dar pra chegar em casa. Pensou em adentrar um lote vago e devolver para a mãe natureza o que dela consumira ali mesmo. Mas não dava, havia algumas casas perto com uma janela aberta. Era melhor cagar nas calças do que ser flagrado cagando num lote vago. Sacou o celular, ligou para a mãe e já mandou deixar todas as portas abertas, pois a coisa estava preta. Batendo um recorde de 200 metros rasos em meio minuto, ele conseguiu entrar no banheiro e no ato de tirar as calças, as fezes já saíram junto com a cueca, caindo dentro do vazo. Um segundo a mais e ia dar merda.
Este foi o primeiro susto que ele passou. Após isso, houve outras situações de aperto, mas ele foi salvo de alguma maneira, exceto em uma bela noite de um sábado pacato.
Chovia, mas mesmo assim resolvera sair de casa. Era o dia especial para ficar deitado assistindo porcaria na TV, mas lá foi ele caçar encrenca. Faltava pouco para chegar à praça, apenas uns quarteirões, quando sentiu a primeira “pontada” de que lá vinha merda pelo caminho. Não era possível... ele saiu de casa com a barriga em perfeito estado, cagara duas vezes antes e grandes quantidades de bosta, não era possível que viria mais. Pensou em voltar para trás, mas a dor havia passado. Andou mais cinco minutos e encontrou com Selewkyc no meio do caminho e juntos foram para a Praça. A vontade de cagar voltou. Pensou em fazer um shit-stop no Magnata, porém ficou com vergonha de Selewkye rir da cara dele e seu estomago tornara a dar sinais de que era só uma vontade de soltar um peidinho. Chegando na Praça, o clima era pós-chuva, então eles foram pro refúgio da época (não pode ser citado aqui). Agora não era mais vontade de cagar que Snowlisa sentia, e sim uma vontade incontrolável de mijar. Já havia ficado uns vinte minutos de pernas cruzadas, pulando, relando coxa com coxa, uma hora não deu, pulou o muro e foi mijar num cantinho. Bastou usar 0,0012 J (jaules) de força para impulsionar o mijo que um torrencial de bosta lhe escapou pela traseira. Ele ficou roxo de nervosismo. Não sabia o que fazer naquela situação. O pior é que se ele realmente quisesse cagar ali, numa atitude desesperada de sufoco, dava. Era só agachar no matinho e pronto. Mas agora como lidar com dois quilos de merda na sua cueca? Não tinha resposta. Mijou. A única solução que viera à sua mente era ligar para o seu pai buscá-lo, ir em casa, tomar banho e voltar. Mas como passar por todos os seus amigos sem que eles notassem? E o cheiro? Não tinha como, teria que enfrentar o desafio. Pulou a cerca e voltou. Seus amigos estavam sentados e Snowlisa ficara em pé, numa posição meio lateral, tentando evitar que eles vissem o seu traseiro lambrecado. Snowlisa não tinha noção do tamanho de imundice que era visível, para ele não havia saído tanto coco. O problema era a forma líquida da caganeira: ela espalhou-se por toda a busanfa.
Pegou o celular e ligou para seu pai “Alô pai? Me busca aqui na praça que eu tive uma dor de barriga e me caguei todo”. Snowlisa inventou uma desculpa esfarrapada de que ia à sua casa buscar uma roupa de frio e que já voltava. Os amigos já tinham sentido um cheiro de coisa estranha no ar e na desculpa, mas permaneceram em silêncio, em sinal de amizade. A demora foi longa. Passava um transeunte, Snowlisa tinha que virar prum lado, passava um carro virava pra outro. Pouco depois o carro chegou. Alívio Imediato!
Saiu correndo pra entrar no carro, já sentia os louros da vitória sobre sua cabeça. Chegaria à sua casa, tomaria banho, trocaria de roupa, voltaria pra Praça, passando assim um papel higiênico na história e ninguém ficaria sabendo desta cagada, exceto sua família, mas família é para estas coisas. Já sentia o famoso alívio-pós-cagada (coisa que não sentira há alguns minutos atrás) quando um dos seus amigos (que ele acha ser Selewkye) gritou:
- Que isso Snowlisa? Cagou nas calças? (risos).
Toda sua alegria foi por água a baixo. Para finalizar com as piadas referentes a coisas relacionadas com o ato de defecar, alguém dera uma descarga na sua felicidade. Entrou no carro e foi pra casa, se limpar fisicamente. Mas Snowlisa era forte. Iria voltar e enfrentar a vergonha. Já passara por coisas pior, ele conseguiria. Voltou, encontrou com os amigos, não negou o cocô e pronto. Saíram pra passear. No meio do caminho a vontade voltou. Droga. Saiu correndo para os banheiros públicos municipais mas eles estavam fechados (malditos vândalos que quebram os banheiros) e foi embora mais uma vez, era a única solução. Desta vez deu tempo dele chegar a pé até a sua casa em segurança.
Vez ou outra ele continuou dando uns apertos para cagar. Uma vez fora salvo por Edde, que morava ali perto da Praça e emprestou seu banheiro para Snowlisa. Ele estava muito encucado com o problema e só queria achar uma resposta para aquilo. Um dia, após um show do Capital Inicial, Snowlisa chegou ao seu lar com duas toneladas de água no corpo. Tomou um banho quente e bebeu três xícaras de café. No dia seguinte, acordou, tomou café, foi para o mangueirão curtir a vida adoidado e a mesma dor de barriga voltou. Cagou sete vezes, em intervalos de vinte minutos. Eram leves peidinhos molhados, sem bosta, só mijo anal. Mas era considerado cagar. Após uma conversa com Rubon, foi diagnosticado que o café era o grande malfeitor dos problemas estomacais de Snowlisa. Nos tempos da cagada em Praça pública, ele bebia de quatro a cinco copos cheios de café por dia. Ele ficou uns dois meses sem tomar café e logo, sem diarréia. Um dia que ele bebeu e à noite se lambuzou todo novamente. Sorte que ele descobriu o vilão, porque senão até hoje ele estaria adubando algumas praças e lotes vagos por aí.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

#06 - Pimenta na comida dos outros não é refresco

Bem, finalmente o caos terminou. Eu fiquei apertado nos últimos meses por ter entrado no meio do primeiro bimestre e dar conta de planejar material, provas, trabalhos, testes e afins para os alunos. Foi corrido mas venci esta etapa aprendendo duas lições: sempre lance as notas no diário a lápis e elabora suas provas com um mês de antecedência.

Só para me sentir util, fiz mais um causo da série de 25 causos que vão compor um livro assinado por mim. Continuo achando que a narrativa não está legal mas eles ainda passarão por várias lapidações até ficarem perfeitos. Digamos que sejam apenas um registro de algo que em determinada época foi engraçado.

Boa leitura:

Pimenta na comida dos outros não é refresco

Esta história vai contra todos os princípios do Fome Zero. Aliás, a intenção dela era mesmo matar a fome de alguns plebeus, mais algumas variáveis tornaram o desencadear dos fatos um pouquinho diferente.
Tudo começou com uma turma de terceiro-anistas indo para a tão sonhada Praia de formatura. Os ricos iam para Porto Seguro, vestir logo o micareteiro em sua mente, falar que Claudia Leite é uma diva e que o Trio da Ivete é a melhor coisa do mundo. Os pobres, vão para Guarapari encontrar um bando de mineiros que conhecem sua avó, sua tia e seus primos. É neste grupo que os protagonistas e os figurantes desta história se incluem.
Na teoria, quem vai pra Praia quer descansar, ficar deitado na areia tomando sol e água de coco, nadar, curtir as belezas naturais, etc e tal. Para um bando de adolescentes, a única coisa que importa é estar a quilômetros de distancia dos pais, em um lugar sem lei, sem hora pra voltar pra casa, sem ter de dar satisfação para onde está indo e poder petiscar qualquer pessoa que quiser. Santa liberdade.
Numa das primeiras noites de uma semana que passaria num piscar de olhos, Raia, uma jovem garota dá um coma alcoólico por causa de uma paixonite mal correspondida. Sem contar os diversos casos de desatentos pisando em ouriços do mar e de outros que comem 50 espetinhos de camarão e 75 ostras, andam no sol e depois passam três dias com diarréia, gemendo no banheiro pela madrugada. Foi a primeira vez que um homem cinza caminhou sobre a terra.
Durante a organização da viagem, a preocupação maior é com ônibus e com estadia e ninguém se lembra de preocupar com a comida. Está certo que quem está se divertindo e foi para um passeio não vai comer lasanha com rocambole todo santo dia, mas se for pra comer arroz, feijão e macarrão, que seja pelo menos então comestível. O primeiro vilão dessa jornada era o grude que era oferecido para o bando de 50 jovens. Era todo dia um arroz duro como pedra, um feijão ralo e uma sopa de carne moída que era preciso de horas para pescar algum pedacinho de carne.
Pouco a pouco a péssima qualidade das refeições foi levando os festeiros a uma indignação sem limites. Alguns não agüentavam mais terem que pagar restaurante sendo que investiram uma quantia X de dinheiro no orçamento para a comida e outros achavam injusto ficar miserando comida sendo que tinha muita coisa na dispensa.
Tais opiniões levaram o povo a, numa quinta qualquer, às 23 horas, fazerem um protesto silencioso e realizar um banquete com toda a comida da dispensa. Foda-se os outros dias e quem não comer, devemos matar a fome e a hora é agora.
Um mutirão começou a descascar batatas enquanto o cozinheiro iniciante chamado Lei fazia os preparativos pro arroz e pro frango. Ninguém sabia qual seria o cardápio final, só sabíamos que seria o maior banquete do mundo. “Quantas batatas devemos descascar?” “Todas! Vamo cumê batata frita até o cu fazer bico”. Um jovem apelidado de Sergingas era um dos chefes da rebelião. Liderava os famintos induzindo-os a descascar batatas para comer com fartura. Ele não queria saber se a batata estava pobre, crua, verde, sem sal. Sò queria comer e se vingar das cozinheiras que judiaram de todos por quatro dias à arroz, feijão e sopa rala.
Lei estava todo focado no seu ofício. Queria fazer uma comida gostosa e que agradasse o paladar dos miseráveis. Mas o povo tinha fome e o espírito da rebelião já estava apagando. Alguns foram dormir e pediram para serem acordados quando o jantar (ou café da manhã) ficasse pronto.
Enquanto esperávamos no quarto, pela janela era possível ver Lei cozinhando e cantarolando. Até que Sergingas chega para interromper a sua paz.
- Você vai botar pimenta nesse arroz? – Perguntou ele – fica bom arroz com pimenta.
- Ah cara, não rola. – respondeu Lei – Tem gente que não gosta. É melhor o povo servir o arroz e depois quem quiser bota uma pimenta no seu prato e come.
- Você está falando isso só porque você não gosta de pimenta. Larga de ser egoísta e viadinho cara, num é porque você está cozinhando que tem que mandar na comida não uai. Só uma pimentinha ae, não vai fazer diferença nenhuma.
- Cara essa pimenta é forte demais, sério mesmo. Uma pimenta vai deixar essa panela inteira forte. Já falei que não rola.
Sergingas, impetuoso, pega o frasco de pimenta, derrama umas duas dúzias na palma da sua mão, aproxima-se sorrateiramente por trás de Lei e joga as pimentas na panela.
Lei rapidamente bate a colher de pau na beirada do fogão e sai xingando pela casa afora.
- Aquele desgraçado agora que eu não cozinho mesmo. Negão narigudo de uma figa, nunca gostei dele, ele sempre soube disso....
Enquanto os xingamentos continuavam, o povo não sabia se ria ou se sentia pena de Lei, que sentara na sua cama e começou a resmungar sem fim.
Mas a cena virou cômica aos poucos: Sergingas ficava no fogão remexendo a comida e cantando umas músicas de Escrava Isaura mescladas com Ney Matogrosso ou Arnaldo Antunes só para fazer raiva em Lei, seria cômico se o final não fosse trágico.
Horas depois Sergingas entra no quarto para anunciar que o jantar estava pronto e diz uma máxima para alegrar os participantes:
- Galera, o jantar está pronto! E Lei, em teu prato cuspirei!
Impossível narrar a cena, só quem viu sabe como foi.
A porção de batatas estava enorme, mas desapareceu em poucos minutos e não matou a fome de ninguém. A solução seria comer arroz com frango até explodir o estomago. Todos rechearam seus pratos com montanhas de arroz e sentaram à mesa para comer.
A primeira colherada fez todo mundo largar o talher e ir cuspir o arroz. Estava extremamente picante. Não sabemos como o arroz não ficou vermelho, mas que o gosto da pimenta dominava estava obvio. Em seu canto, Lei comemorava sua vitória contra as humilhações de Sergingas.
Alguns ainda insistiram em fazer uma forcinha e tentar comer o arroz mesmo assim, mas foi impossível. Sergingas foi o primeiro a abandonar o prato e na maior cara de pau dizer:
- Eu falei para não botarem pimenta!
Após isso, o sol já nascia e resolvemos nadar vendo o sol nascer. Foi a única forma de lavar os nossos olhos e corpo com a pimenta lançada neles. Ao voltarmos para a casa, esquecemos que alguém teria que justificar toda a bagunça na cozinha e o desaparecimento da comida, ou melhor, o aparecimento dela dentro de uma lata de lixo. Negamos até a morte (éramos um grupo de 20 entre 50) que nós sabíamos o que aconteceu com a comida e até hoje o mistério parece estar enterrado. Exceto se alguém ler este causo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

#05 - Raçao para Pinto

Ração para pinto

Era uma vez uma menina ingênua. Por ingênua, não julgue que ela não sabia das maldades do mundo. Ela até as conhecia, graças aos conhecimentos adquiridos com a literatura de fofocas e programas destinados a dúvidas sobre sexo. Mas algo faltava na sua cabeça que a levasse a um bom raciocínio lógico.
Ela tinha uma nome: Nevassa. Vivia trancafiada num quarto assistindo toda a programação da tarde. Era tão assídua, que seria até capaz de gravar a programação do outro canal para tentar assistir as duas no mesmo dia. Socializa-se com alguma freqüência, pois tinha que abastecer o seu estoque de fofocas.
Certo dia, Nevassa resolve mostrar para os seus amigos um das suas fitas cassete de infância. Dando o play no vídeo lá está ela, com uns três anos de idade pulando e dançando, provavelmente numa festinha para comemorar a sua idade nova. Seu pai, o cinegrafista e narrador do vídeo lhe passa a seguinte instrução:
- Nevasssa querida, senta e toca o pianinho que você ganhou.
À frente da criança, encontra-se um lindo piano infantil. Não era apenas um daqueles reles tecladinhos com sons de animais, mas sim um piano com calda e tudo.
A menina continua olhando pro foco da câmera e parece não ter entendido a ordem. O pai lhe diz mais uma vez:
- Vamos lá amor, senta e toca o piano.
Sábia, a garota entende a ordem e passa pra fase de execução. Em poucos segundos, a criança se senta nas teclas do piano e começa a pular, tocando o piano com a bunda. Se o pai dela comentou algo ninguém escutou, porque todo mundo estava rindo no momento que assistia isso.
- Uai, ele mandou eu sentar e tocar o piano, eu fiz as duas coisas uai. – diz a Nevassa versão adulta.
O tempo foi passando e ela ingressa no ensino universitário, resolveu virar enfermeira.
Primeiro dia de aula, ânsia para estreiar os cadernos novos, sala ainda desconhecida, um professor tentando ser engraçado começa sua aula sobre afrodisíacos. Depois de meia hora dissertando sobre o tema, escolhe Nevassa para responder uma das suas questões (sem usar termos técnicos na formulação da pergunta):
- Nevassa, qual comida é boa para fazer o pinto crescer?
Ela para, fica toda pensativa e então responde:
- Uai professor... ração?
A sala cai em riso. O professor se espanta, achara que estava em um ambiente onde todos eram mentes sujas e já entendiam dessas maldades da vida, então ele repete a pergunta:
- Não, Nevassa, não é ração. Tem coisas que estimulam o pinto a crescer e faz ele ficar mais forte para reproduzir.
Ela pensa novamente, pelo menos aparenta, e afirma:
- Uai, sempre vi minha avó dando milho pra eles crescerem, se não for isso eu não sei o que é.
Depois dos risos, o professor seguiu explicando sobre amendoim, ovo de codorna, jurubeba. Nevassa prestou atenção à aula, pois não queria mais fazer feio perante os novos colegas e queria descobrir o que fez a sala rir da cara dela.
Acaba a aula, ela encontra com uma colega na saída da faculdade.
- Iai Nevassa, está gostando do curso?
- Sim! Acredita que hoje eu descobri que se dermos ovo de codorna ou amendoim para os pintinhos eles crescem mais de depressa! Vou contar isso pra minha avó, assim vamos comer galinha todo final de semana.
Qual foi a reação da avó dela ao ouvir isso ninguém sabe. Tomara que alguém já a tenha tirado desse equívoco.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

#04 - Gol de Viatura

Gol de Viatura

Xoupex era um sujeito boa praça. Aparecia do nada, altas horas da noite, e chegava em qualquer rodinha de amigos e conseguia animar todo mundo com seus causos mais fantásticos. Alguns deles beiravam o absurdo, como o dia em que narrou a epopéia de um amigo que estava dirigindo uma Brasília e encontrou uma Carreta Bitrem estragada no meio da rodovia. Muito solidário, resolveu ajudar a “rebocar” a carreta e a danada da Brasília conseguiu força suficiente pra trazer a carreta de Campo Belo até o Posto São Vicente. Será verdade? Vamos ver!
Há fatos que foram presenciados por olhos de pessoas que não costumam mentir, como o dia em que Xoupex e Guifonho foram ganhar um bico tentando instalar uns cabos de internet na casa de uma coroa. Os dois não manjavam quase nada do assunto, mas sabiam que a missão era apenas trazer um fio da laje e plugá-lo no computador. Mas havia uma parede no meio do caminho...
Sem pensar duas vezes, Xoupex correu até a sua casa e trouxe uma furadeira para mostrar pra parede quem é que manda. Ao ver que Xoupex não se preocupou nem um pouco com o tamanho da broca, Guifonho o advertiu que aquilo não daria certo, que ela era grossa demais e que iriam fazer um estrago na parede da mulher, mas Xoupex não se atentava a esses detalhes – vai ser só um furinho, ela nem vai notar – poetizou.
Poucos minutos depois estavam cada um de um lado da parede e Xoupex iniciou o martírio da perfuração. Ele pressionava, pressionava, punha mais força, pressionava e nada da parede furar.
- Já apareceu a broca do outro lado Guifonho?
- Nada.
- E agora?
- Ainda não.
- Agora deu?
- Peraí, ta aparecendo algo na parede.
Quando Guifonho olhou com mais clareza notou que o buraco estava ficando enorme e vinha seguido de uma trincadura gigante. Os dois tentaram despistar o fato, retirando os pequenos escombros que sujaram o chão da madame e prosseguiram com a instalação da internet.
Tempo depois, a madame senta no computador para sentir a nova velocidade da sua internet. De cara, já foi para o Megacubo, um site onde é possível assistir vários canais de televisão em tempo real e de graça. A mulher, indecisa, olha os canais sem saber o que assistir. Ela vê um XXX e fala:
- Olha, deve ta passando “Triplo X”, esse filme é muito bacana.
Xoupex e Guifonho olham um para o outro, mas como queriam ver merda, não contam pra coroa o que XXX quer dizer na linguagem adulta virtual.
Quando ela clicou, não demorou nem dois segundos para ela ver milhares de corpos se enroscando tentando virar um só. Uma tremenda orgia de filmes pornôs. Como os dois se justificaram para ela, deve estar sendo contado em uma Praça espalhada pelo país afora...
Já uma Praça em especial tem uma boa história para contar sobre os pés (que outrora eram considerados sujos) de Xoupex. Conversa vai, conversa vem, começa uma discussão pra ver quem consegue chutar uma bola da La Macabra (ponto/atrativo turístico localizado nas arquibancadas da Praça) até dentro do lote do Solenin. Desafio aceito.
Xoupex era conhecido como o Terror do Futebol. Mas não pelas suas habilidades nos gramados. Sempre que a galera reunia para ver jogos na TV a cabo, lá estava Xoupex, com um radinho e fones no ouvido. O atacante entrava na área e o garoto já começava a pular no sofá gritando gol ou “puta que pariu foi pra fora.”
Mas sobre futebol, uma habilidade dele deixava todos de cara: a potencia dos seus chutes. Nas três primeiras tentativas ele já conseguiu chegar até na calçada. Outros que tentaram aceitar o desafio não conseguiram passar nem da metade da Praça. Só é importante ressaltar, que já eram cerca de 2h30 da madrugada e ninguém queria ir embora enquanto não visse um feito histórico: o lendário chute de dezenas de jardas sendo realizado na frente dos seus olhos. Pouco tempo depois, ele conseguiu concluir o feito, mas o povo ainda queria mais, queriam ver ele fazer novamente e ainda com mais força no pé!
Xoupex preparou um chute daqueles bem potentes e meteu o pé na bola. Inacreditavelmente, contrariando todas as leis da física, todos os presentes viram um carro se aproximando. Chance de acerto da bola no carro: 0,00002%. O carro, que vinha em alta velocidade, foi atingido em cheio no vidro dianteiro. Todo mundo parou e ia dizer “puta que pariu!”, mas antes que o cérebro enviasse o comando para a boca proferir estas palavras, os olhos notaram que o carro se tratava de uma viatura policial. Chance de isso acontecer: 0,00000000001%.
Todos ficaram sem fala, e só queriam dar um jeito de se safarem dali para não serem presos. Imaginem a reação dos policiais: você trafegando tranquilamente numa noite de sexta feira, às 2h42 da manhã, tudo calmo, quando de repente o seu carro é atingido por uma bolada bem forte. Rapidamente, os “homi” desceram da viatura e já queriam tirar satisfação, quando Xoupex se aproximou e com um jeitinho e uma boa lábia se desculpou com os caras. Por ser amigo de um dos policiais o jovem foi apenas advertido:
- Parem com a bola. Isso não é hora nem local para jogar futebol.
Sorte que Xoupex apenas disse que estavam “jogando futebol”. Imagina se ele conta que atravessou a Praça com um chute? Os policiais iam levá-lo para o manicômio e os presentes teriam que testemunhar um feito heróico.
Em algum outro lugar do mundo, ele deve estar contando esse caso da bolada para alguma rodinha de amigos e ninguém deve estar acreditando nele, como ninguém acreditou na história da Brasília. Porém, conhecendo Xoupex e assistindo uma de suas façanhas, tudo passa a ser a mais pura verdade.

domingo, 16 de janeiro de 2011

#03 - Fuscão Preto

Fuscão Preto

Era uma noite de verão, sábado. O tédio rompia as entranhas de um grupo de adolescentes que resolveram sair para comer uma panqueca em um trailler qualquer, situado no topo da cidade. A vista do local era linda. Era possível enxergar as diversas luzes que compunham o cenário arquitetônico noturno da cidade. Mas ninguém ligava para as luzes, pelo menos no momento de comer. Hora sagrada.
As regras de etiqueta não existiam para aquele povo. Bastava um piscar os olhos para que o outro furasse a garrafa de refrigerante com a faca, fazendo com que a pessoa que fosse servir sujasse toda a sua roupa com o líquido que escorria pelo buraco. Brincadeira de mau gosto, os outros riam de bom grado.
Conversa vai, conversa vem. A bagunça era geral como de praxe. Até que em determinado momento um black-out assombra todo o bairro. A gritaria foi intensa e tão logo já começaram as piadas:
- Tira a mão do meu pa*, ta doendo!
- Quem tá passando a mão na minha b*nd*?
Piadas seguidas de gritos eufóricos de pseudo-medo, só para aproveitar a chance de gritar. No trailler, a dona do estabelecimento solta um berro e manda o grupo de jovens terem respeito, já que o lugar era um local de família, e a boa índole sempre deveria prevalecer.
Ofendidos e sem graça, os jovens cogitaram a hipótese de correr no escuro sem pagar. Mas como vários companheiros moravam nas redondezas, a fuga seria um fiasco e sujaria o nome dos pais dois coitados nas praças da cidade. Comeram, pagaram e saíram.
No momento de deixar o estabelecimento, pararam e contemplaram a escuridão. Não havia nada ao redor e era impossível enxergar qualquer ser vivo que não estivesse há uns 25 centímetros de distancia. Pra piorar, o bairro era famoso por ser uma região um pouco violenta, e vagar pelas ruas sem iluminação era pedir pra morrer.
O grupo era pequeno, cerca de oito jovens. Sem acharem solução de como ir embora, alguns deles decidiram dormir na casa de Nobre, um garoto que morava alí pelos arredores. Enquanto isso, Norlam, o mais velho da turma, estava de carro e era o único que dispunha de meios seguros para ir embora, então ele recusou a proposta pra dormir na casa de Nobre e foi até a esquina pegar o seu possante.
Norlam colocou a chave na maçaneta de seu Fusca e girou, mas nada aconteceu. Estaria ele errando a chave ou o buraco devido ao apagão? Bem provável. Continuou tentando e nada.
- Precisa de ajuda? – Pergunta um dos amigos
- A porta deve estar emperrada. Ela trava assim mesmo.
Nisso, Norlam segurou a maçaneta com mais força e tentava puxar a porta, forçando o pé contra a porta pra ganhar impulso. Nada. A porta não abria.
Neste instante, a porta da casa da frente se abre e um homem gordo, sem camisa, com um pedaço de pau na mão surge e diz com uma voz nada gentil:
- Que que você ta querendo muleque!? Ta tentando roubar meu carro assim, na cara dura?
Norlam, que já não era de muita conversa ficou mudo. Sem saber o que fazer, olhou ao redor procurando uma luz nas trevas e finalmente percebeu o seu erro.
Andou lentamente e, sem graça, virou pro dono e disse:
- Oh! O meu Fusca é aquele ali! - E se dirigiu para um outro automóvel idêntico ao que ele tentara arrombar, estacionado há uns 15 metros de distancia.
O homen ficou sem reação no portão de sua casa, enquanto o joven ligava o carro e sumia na escuridão. Por pouco ele não perdera a vida por causa de um simples engano.
Enquanto isso, o pobre Nobre levou os amigos pra dormirem na sua casa. Em cima de uma das camas, havia uma televisão que eles haviam tirado da estante para colocar o computador. Um dos nômades, de nome Tesuma Agalo, estava brincando de equilibrar o eletrodoméstico com os pés, quando, de repente, coloca um pouquinho de força a mais e a TV colide contra o chão. Tudo que o povo ouviu na escuridão foi o último suspiro dos fusíveis da televisão deixando o plano material. Sorte que as trevas tamparam as lágrimas que escorriam pela face de Nobre, prevendo o que acontecia quando sua mãe recebesse a notícia do ocorrido.


Post Scriptum

Enfim, este é meu novo projeto. Estava só esperando juntar uns 20 contos pra publicá-los e fazer uma compilação no final, que por enquanto eu denomino "Curriculum Merdae". São pequenas anedotas contadas em mesas de bar que já aconteceram com o povo da turma. Fatos que se contar ninguém acredita - é com esse mote que eu vou escrever as histórias. Minha meta não é ofender ninguém com isso, visto que os nomes serão todos fictícios. O que eu quero é treinar a minha escrita para uma área que eu não tenho o costume de escrever. Quero treinar meus recursos narrativos. Eu sou muito dissertativo, preciso espandir meus horizontes, então, sintam-se livres pra me corrigir e dar palpites. Se alguém tiver sugestões de casos cômicos também eu agradeço. E se alguém quiser contar um causo, sinta-se livre também. Basta usar a numeração #21 e continuar. Pra quem não sabe, a #01 e a #02 já foram postadas (A mulher fogosa do Jazz e a Batida de Carne (do Fuca)) .
Sei que esse ficou sem graça, mas é so pra lembrar mesmo. Daqui uns 10 anos a gente ri disso, do mesmo jeito que a gente ainda ri da ponta do iceberg, quando já colidimos frontalmente com ele!