quinta-feira, 19 de maio de 2011

#07 - Merda Acontece

Tirando a Sandy, todo mundo caga. Todo mundo mesmo. Alguns têm a sorte de sempre sentirem vontade de defecar quando há um banheiro próximo. Outros, cagam sem vontade em lugares indesejados. Limpar a sujeira de bosta do corpo é fácil (mentira, dá um trabalhão e necessita de um estomago muito bem treinado), mas limpar a merda da reputação é impossível. Cicatriz de merda eterna. Para protagonizar esta tragédia sem sangue, sem estupros, sem violência e sem mortes, mas com um final tão trágico quanto o necessário para se enquadrar neste gênero teatral, apresentamos o vosso protagonista, um jovem chamado Snowlisa.
Snowlisa sofria de um distúrbio intestinal sem saber. Do nada lhe dava uma vontade terrível de cagar e não dava para segurar: se em cinco minutos ele não estivesse no banheiro, era bosta na cueca na certa! Ele demorou a se dar conta disso. O pior teve que acontecer, várias vezes.
No ambiente de trabalho, ele não tinha pudores para dar aquela cagadinha básica. Era só não demorar muito pra ninguém desconfiar e rezar para que ninguém entrasse lá dentro e sentisse o cheiro após a defecada. Na faculdade, também não enfrentara problemas, pois morava perto do local então dava pra fugir para a sua casa de boa. Na maioria das vezes, nunca era bosta concreta e sim um mijo com pouca sustança, tipo aquelas sopas de pobre: muito caldo, pouco complemento.
Uma noite, voltando da Praça, Snowlisa sentiu uma grande vontade de cagar. Faltava em média uns dez minutos para ele chegar na sua morada. Não sabia o que fazer. Soltou um leve peidinho que mesmo em pequenas proporções foi capaz de pintar um Miguelangelo na sua cueca. Com medo de dar vacilo, começou a correr quinem um louco. Uma hora ele sentiu que não ia dar pra chegar em casa. Pensou em adentrar um lote vago e devolver para a mãe natureza o que dela consumira ali mesmo. Mas não dava, havia algumas casas perto com uma janela aberta. Era melhor cagar nas calças do que ser flagrado cagando num lote vago. Sacou o celular, ligou para a mãe e já mandou deixar todas as portas abertas, pois a coisa estava preta. Batendo um recorde de 200 metros rasos em meio minuto, ele conseguiu entrar no banheiro e no ato de tirar as calças, as fezes já saíram junto com a cueca, caindo dentro do vazo. Um segundo a mais e ia dar merda.
Este foi o primeiro susto que ele passou. Após isso, houve outras situações de aperto, mas ele foi salvo de alguma maneira, exceto em uma bela noite de um sábado pacato.
Chovia, mas mesmo assim resolvera sair de casa. Era o dia especial para ficar deitado assistindo porcaria na TV, mas lá foi ele caçar encrenca. Faltava pouco para chegar à praça, apenas uns quarteirões, quando sentiu a primeira “pontada” de que lá vinha merda pelo caminho. Não era possível... ele saiu de casa com a barriga em perfeito estado, cagara duas vezes antes e grandes quantidades de bosta, não era possível que viria mais. Pensou em voltar para trás, mas a dor havia passado. Andou mais cinco minutos e encontrou com Selewkyc no meio do caminho e juntos foram para a Praça. A vontade de cagar voltou. Pensou em fazer um shit-stop no Magnata, porém ficou com vergonha de Selewkye rir da cara dele e seu estomago tornara a dar sinais de que era só uma vontade de soltar um peidinho. Chegando na Praça, o clima era pós-chuva, então eles foram pro refúgio da época (não pode ser citado aqui). Agora não era mais vontade de cagar que Snowlisa sentia, e sim uma vontade incontrolável de mijar. Já havia ficado uns vinte minutos de pernas cruzadas, pulando, relando coxa com coxa, uma hora não deu, pulou o muro e foi mijar num cantinho. Bastou usar 0,0012 J (jaules) de força para impulsionar o mijo que um torrencial de bosta lhe escapou pela traseira. Ele ficou roxo de nervosismo. Não sabia o que fazer naquela situação. O pior é que se ele realmente quisesse cagar ali, numa atitude desesperada de sufoco, dava. Era só agachar no matinho e pronto. Mas agora como lidar com dois quilos de merda na sua cueca? Não tinha resposta. Mijou. A única solução que viera à sua mente era ligar para o seu pai buscá-lo, ir em casa, tomar banho e voltar. Mas como passar por todos os seus amigos sem que eles notassem? E o cheiro? Não tinha como, teria que enfrentar o desafio. Pulou a cerca e voltou. Seus amigos estavam sentados e Snowlisa ficara em pé, numa posição meio lateral, tentando evitar que eles vissem o seu traseiro lambrecado. Snowlisa não tinha noção do tamanho de imundice que era visível, para ele não havia saído tanto coco. O problema era a forma líquida da caganeira: ela espalhou-se por toda a busanfa.
Pegou o celular e ligou para seu pai “Alô pai? Me busca aqui na praça que eu tive uma dor de barriga e me caguei todo”. Snowlisa inventou uma desculpa esfarrapada de que ia à sua casa buscar uma roupa de frio e que já voltava. Os amigos já tinham sentido um cheiro de coisa estranha no ar e na desculpa, mas permaneceram em silêncio, em sinal de amizade. A demora foi longa. Passava um transeunte, Snowlisa tinha que virar prum lado, passava um carro virava pra outro. Pouco depois o carro chegou. Alívio Imediato!
Saiu correndo pra entrar no carro, já sentia os louros da vitória sobre sua cabeça. Chegaria à sua casa, tomaria banho, trocaria de roupa, voltaria pra Praça, passando assim um papel higiênico na história e ninguém ficaria sabendo desta cagada, exceto sua família, mas família é para estas coisas. Já sentia o famoso alívio-pós-cagada (coisa que não sentira há alguns minutos atrás) quando um dos seus amigos (que ele acha ser Selewkye) gritou:
- Que isso Snowlisa? Cagou nas calças? (risos).
Toda sua alegria foi por água a baixo. Para finalizar com as piadas referentes a coisas relacionadas com o ato de defecar, alguém dera uma descarga na sua felicidade. Entrou no carro e foi pra casa, se limpar fisicamente. Mas Snowlisa era forte. Iria voltar e enfrentar a vergonha. Já passara por coisas pior, ele conseguiria. Voltou, encontrou com os amigos, não negou o cocô e pronto. Saíram pra passear. No meio do caminho a vontade voltou. Droga. Saiu correndo para os banheiros públicos municipais mas eles estavam fechados (malditos vândalos que quebram os banheiros) e foi embora mais uma vez, era a única solução. Desta vez deu tempo dele chegar a pé até a sua casa em segurança.
Vez ou outra ele continuou dando uns apertos para cagar. Uma vez fora salvo por Edde, que morava ali perto da Praça e emprestou seu banheiro para Snowlisa. Ele estava muito encucado com o problema e só queria achar uma resposta para aquilo. Um dia, após um show do Capital Inicial, Snowlisa chegou ao seu lar com duas toneladas de água no corpo. Tomou um banho quente e bebeu três xícaras de café. No dia seguinte, acordou, tomou café, foi para o mangueirão curtir a vida adoidado e a mesma dor de barriga voltou. Cagou sete vezes, em intervalos de vinte minutos. Eram leves peidinhos molhados, sem bosta, só mijo anal. Mas era considerado cagar. Após uma conversa com Rubon, foi diagnosticado que o café era o grande malfeitor dos problemas estomacais de Snowlisa. Nos tempos da cagada em Praça pública, ele bebia de quatro a cinco copos cheios de café por dia. Ele ficou uns dois meses sem tomar café e logo, sem diarréia. Um dia que ele bebeu e à noite se lambuzou todo novamente. Sorte que ele descobriu o vilão, porque senão até hoje ele estaria adubando algumas praças e lotes vagos por aí.