quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Cape Town, Cape Town

Resolvi teclar algumas palavras para tentar descrever um pouco da minha experiência visitando uma das cidades mais bonitas do mundo, Cape Town, na África do Sul. Sempre que conheço um lugar novo, tenho em mente dois fatores: o lugar e as pessoas. Às vezes podemos ir para um lugar horrível, mas com as melhores companias e a viagem se torna fantástica, da mesma forma que podemos estar sozinho em um lugar lindo e a viagem ser um tédio. Nessa breve resenha, vou me atentar apenas ao lugar, deixando as bagunças e as situações engraçadas para uma outra oportunidade. Quando alguém decide ir pra fora, logo vem à cabeça: Europa, os States, a Austrália, mas nunca ouvi brasileiros falando de ir para a África do Sul. Eu mesmo não tinha vontade alguma de conhecer esse país e acabei indo pela comodidade de ter um casal de amigos morando lá, o que facilitaria e muito a viagem. Eu evitei ao máximo procurar informações na Internet para não perder a graça. Odeio viagens roteirizadas e isso foi um diferencial e tanto na minha jornada. Essa questão de “segunda tenho que ir ao Museu X, terça almoçar no restaurante Y, quarta passear na avenida Z…” acho que destroi a exploração e faz com que a viagem pareça mais uma obrigação do que uma diversão. Como chegamos à noite, o choque cultural e geográfico não foi tão perceptivo à primeira vista. Depois de um longo voo, só queriamos um chuveiro e uma cama, e quando vimos as luzes da cidade e o transito forte, pareciamos que estavamos ainda no Brasil, em uma cidade grande como Belo Horizonte ou São Paulo. No dia seguinte, a mágica começou a acontecer. Saímos para caminhar sem rumo, sem objetivo, sem destino. O inglês ainda não teve chance de ser posto em prática, apenas na leitura de placas, outdoors e propagandas, que eram o único indício de que estavamos no exterior. Nesse dia, acredito que andamos mais de 20 quilometros pela costa da cidade. As praias eram lindas e limpas, porém o tempo frio e as fortes ventanias (que entortam árvores e derrubam bicicletas) tornavam o ato de nadar impossível. A Cidade do Cabo possui de tudo: praias, montanhas, opções de safari nas mediações, parques temáticos, arquitetura extreamamente moderna e uma vida noturna fantástica. Por outro lado, em meio a tanta riqueza, em cada canto nos deparamos com a pobreza discrepante que existe no país. Parece que ou todo mundo é rico ao extremo ou pobre ao extremo, não existe o meio-termo. Mas uma coisa me chamou atenção: pobreza não é sinal de violência. Nas duas semanas que estive lá, não vi um roubo, uma briga ou um assalto. As pessoas são apenas pedintes. E pedem de tudo. Eles te seguem pelas ruas, insistem em te vender algum artesanato, tentam vigiar o seu carro, carregar suas compras, te ajudar a atravessar a rua, qualquer coisa é valida em troca de uma moedinha. Chegam a ser desagradaveis, pois te seguem pela rua, o que gera o medo em alguns turistas, mas hora nenhuma eles te encostam ou fazem algum tipo de ameaça. E os pedintes não habitam apenas as ruas. Até em locais de trabalho eles pedem para tentar ganhar algo a mais. Houve ocassiões em que em uma fila de supermercado, ao chegar ao caixa, a mulher que nos atendeu pedia a bolsa, ou o óculos que você estava usando. Garçonetes pediam alguma coisa ao te atender e isso gera um leve desconforto, pois somos acostumados com a malandragem no Brasil e lá nós desconhecemos os projetos assistenciais e como é o padrão de vida deles, mesmo de quem tem um emprego fixo. O troco também era sempre voltado errado, o que gerou uma desconfiança de que eles estavam agindo de má fé. Mas ouve dois episódios em que esquecemos carteira e celular em taxis e em ambos os casos, os itens foram devolvidos em casa. Coisa que nunca aconteceria aqui no Brasil. A diversidade cultural também é enorme no país. Tive contato com gente de todos os cantos do mundo e pude absorver um pouco da cultura de cada um deles. Conversar com gente estranha é um exercício e tanto. Mesmo eu sendo tímido, não perdia uma oportunidade de treinar o meu inglês. A atendente do fast-food, alguém que senta ao seu lado em um ônibus, qualquer pessoa em uma fila… são todos ótimos parceiros para um treino. E quando eles te entendem você fica satisfeito e acredita que seu inglês não está lá uma merda. Ouvir eles às vezes é um pouco difícil, pois eles misturam o inglês britânico com um pouco das suas línguas nativas africanas e isso dificulta um pouco a compreensão. Infelizmente a cidade ainda sofre com a segregação racial. Em alguns bares eramos tratados mal por sermos brancos. Parece que nossa presença lá incomodava a comunidade negra que ali frequentava. Houve ocassiões em que algum gerente vinha e nos pedia para mudar de lugar, sentar mais ao fundo, coisas desse tipo. Brancos às vezes chegavam até nós dizendo frases “Stay White Together”, querendo que nós nos aliassemos a eles nessa briga cultural, mas bastava ignorar. Porém em outros lugares, eles lutavam para quebrar esse paradigma. Entramos em um bar de negros uma vez e logo já queriamos ir embora, pois ficamos meio hostilizados com o ambiente. Mas logo um funcionário já veio, puxou os banquinhos, nos pediu para sentar, nos tratou super bem e foi uma das melhores noites que passamos lá. Ele explicou que existe sim essa diferença, mas que eles querem mudar essa imagem e foi muito bom conhecer o outro lado. Entretanto o problema também está em nós. Eu mesmo ficava com um ar interrogativo quando algum branco me falava que era sul-africano. A cena mais desagradável que eu presenciei foram uns ingleses chamando a cidade de “Ape Town” (cidade dos macacos). Isso me deixou triste, mas fiquei feliz ao ver o quanto o Brasil está evoluido nessa questão do racismo. A comida também foi um obstáculo curioso. Logo senti falta de um bom prato de arroz e feijão. Passar 15 dias comendo batata foi difícil. Lógico que eu queria experimentar o novo, mas os temperos apimentados acabaram com meu paladar e estômago e agora não consigo ver pimenta nunca mais. Mas tiveram coisas fantásticas como a carne de avestruz e os cogumelos. Tudo que eu comia que vinha com alguma dessas duas coisas era maravilhoso. Colocar abacate em tudo também foi um susto a princípio. Você pede um sanduíche e lá está aquela gosma verde entre o hamburguer e o presunto, mas acaba que o sabor é muito bom. As cervejas deles são inferiores às nossas, porém o preço é tão inferior também que você acha o máximo pagar o equivalente a 50 centavos em uma long neck. Os lugares mais legais que visitei foram os abertos. Curti muito o Cabo da Boa Esperança, local de encontro dos dois oceanos. A Table Mountain é indescritível. É uma experiência de superação subí-la, mas a recompensa de ser contemplado com a vista da cidade é extremamente válida. São quase 18 quilômetros de caminhada para subir e descer. A Lion’s Head também é legal, mas ela perde a graça depois que você vai à Table, pois é menor e menos desafiadora. Não dá para listar todos os bares, mas existe a Long Street onde há vários bares, cada um com seu tema e atrações. Um que gostamos foi o Dublin, com a temática irlandesa. Nele há shows de segunda a segunda e eu curti muito as bandas de lá. Dentre as opções de safari, escolhemos o Inverdoon. Deu para ver todos os tipos de animais exóticos: elefantes, girafa, gnu, chethah, cudu, springbok (cabra-de-leque), rinoceronte, avestruz e leões. Pudemos conhecer também a vinícola Groot Constantia e beber todas as amostras grátis possíveis do catálogo deles e também visitar o aquário e dar um rolé em um barco pirata. Visitamos também alguns museis legais, como o museu da escravidão, que na ocasião exibia um projeto para a quebra do preconceito contra portadores do vírus HIV, e o museu dos animais, onde foi possível ver inúmeras espécies de animais empalhados. E sempre que podíamos, iamos para o Water Front, apreciar a vista linda da roda gigante e tentar comer tudo que podíamos. E também pude passar o meu aniversário em um Cassino enorme, que infelizmente não pude fotografar nada lá dentro por questões de privacidade. Há também as leves diferenças que logo você acostuma, como jogar o papel higiênico na privada ao invés do cesto de lixo, dirigir na mão inglesa ou comprar energia elétrica antecipadamente, como se estivesse colocando créditos em seu celular. A música e dança deles também é muito chamativa. Em todas as praças sempre há alguém tocando algum tipo de instrumento e a maneira que as pessoas dançam é bastante curioso quando comparamos com o nosso estilo. A voz dos caras que passam de van ao seu lado gritando “Cape Town, Cape Town!” tentando te fazer usar o transporte deles ecoa na sua mente o dia todo. Não tenho muita experiência de viagem, mas isso é um pouco do que eu vivi e gostaria de compartilhar com alguém. Recomendo a todos que puderem ter a oportunidade de conhecer essa cidade a não pensarem duas vezes e irem. Só tomem cuidado com os babuínos… (mas isso é assunto para um outro texto).

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Reação às reações

Sempre que alguma nova rede social aparece, o comportamento humano pode ser estudado sobre um novo patamar e nós demoramos a nos adaptar a alguma mudança proposta. Quantas vezes a privacidade de postar fotos no Orkut foi questionada, e hoje isso é algo bastante natural e que acontece a todo momento em dezenas de aplicativos simultaneamente. Cada vez mais somos surpreendidos com determinadas exposições, mas o que mais me espanta e causa irritação ultimamente são os vídeos de reações. Não sei quando essa moda surgiu. Acredito que foi uma vertente dos podcasts e vlogs que comentavam algum assunto específico. Esses, eu até acho válidos às vezes. É como você assistir a um programa de esportes na TV, onde várias pessoas que, em teoria, detém um conhecimento avançado sobre o assunto discutem aquela partida e te ajudam a compreender determinados aspectos que talvez não ficaram claros ou te fazem ver a situação em outro prisma. Mas você também pode discordar dos formadores de opinião e isso também é um bom exercício argumentativo e te ajuda e muito a elaborar discussões seguindo uma linha de pensamento racional e coerente. Porém, atualmente, é fácil encontrar no Youtube vários vídeos de pessoas comuns, fazendo suas reações a determinado conteúdo. É possível ver pessoas ouvindo uma música, assistindo a um vídeo ou até mesmo lendo alguma coisa pela “primeira vez”. Eles juram de pés juntos que não conhecem aquele conteúdo ainda e querem passar para os seus seguidores o seu sentimento de estar vivenciando aquilo pela primeira vez. Se a reação é verdadeira ou se não passa de um teatro, parece não importar. Há sempre alguém assistindo. E o pior: tem pessoas que deixam de ver algo para esperar a reação de determinada pessoa sobre aquilo. Eles preferem assistir a um filme através dos olhos de outro do que apreciarem a obra por si mesmos. Eu entendo isso como um grave problema. Sempre é discutida a questão da distância social que a Internet nos causa, como também da necessidade de ser alguém que você não é para conquistar atenção de alguém. Mas esse patamar é mais profundo. Indica que as pessoas não são mais capazes de sentir. A arte vai perdendo sua graça. Estamos vivendo experiências através da opinião alheia. Se fulano gostou é bom, se ele fez uma resenha negativa, não quero. Ou “o que fulano acha disso?” ao invés do “o que eu achei, foi bom, foi ruim?” Ainda é cedo para nos dizer até onde isso vai nos levar. É triste assistir crianças dando mais atenção a alguém jogando um determinado jogo do que elas mesmas jogarem e aproveitarem aquele momento. E essa geração já está crescendo com isso, como robôs sem sentimentos e que parecem querer aprender a gostar de algo. Tenho medo do que nos aguarda. Daqui a pouco, coisas simples como um abraço, um passeio com os amigos ou uma noite em um bar podem ser sentimentos desconhecidos, cujas pessoas estarão presenciando através de terceiros, esquecendo como é bom sentir o que a vida nos oferece. Que a única reação que importe seja a sua, pois cada ação terá uma reação. Você pode ignorar a sua ação e curtir a reação dos outros, ou pode agir e vivenciar aquilo por si mesmo, e a reação que você terá é de ter vivido e não apenas existido. Reação às reações

quinta-feira, 22 de junho de 2017

A beleza de um Mosh

Se tem um lugar onde eu me sinto feliz é dentro de um Mosh. Aquele aglomerado de pessoas vestidas de preto se esmurrando, chutando, dando cotoveladas, dançando freneticamente sem ritmo e rodando de um lado para o outro em um frenesi total. Isso sim é um expurgo para a alma. Os moshes, ou mosh pit, também conhecidos no Brasil como roda punk ou bate-cabeça, são a maior expressão de agressividade amorosa que existe. Toda forma de arte causa certa sensação em quem se alimenta dela. A música é uma das melhores delas. Há quem chore ao ouvir um MPB ou sertanejo e há quem entre no cio ao ouvir um funk. Já outros dançam ao som das divãs do Pop, enquanto uns mais descolados viajam para dimensões intergaláticas ao som de um progressivo. Mas e quem gosta de um gênero mais pesado? A única alternativa é o Mosh. Ali a pessoa pode soltar toda sua agressividade e energia retraída em outras pessoas que também desejam o mesmo. E o mais interessante é que o gênero, que na maioria das vezes é tachado por ser composto por cidadãos perigosos e mal encarados, sempre atrai gente do bem. Você não vê uma briga em show de rock. Não vê um furto. Não vê putaria. Só vê gente que ama a música e ama quem ama a mesma música que ele. Então, no mosh, você descarrega toda a sua agressividade sem ferir o próximo. Mesmo empurrando a pessoa, os cotovelos são mantidos afastados para evitar machucar alguém. A pessoa caiu? Rapidamente várias mãos são erguidas e alguém forma uma barreira até que ela esteja de pé. Usou óculos, vacilou, e foi para o mosh com eles? Alguém vai te devolver assim que os encontrar, mesmo que seja somente a armação toda torta. Há quem diga que odeia essa bagunça, que estraga a festa e que é uma palhaçada. É claro que é. Todo mundo ali é babaca de nascença por estar feliz naquele ambiente. Jogar cerveja para cima e molhar os outros? Até parece que mosheiro tem dinheiro para jogar cerveja fora! A sociedade deveria aceitar essa forma de manifestação, como aceitam crianças de oito anos rebolando até o chão ao som de um MC mirim. O dia em que você estiver muito nervoso, ou ansioso com algo, experimente adentrar em mosh. Te garanto que você não sairá de lá o mesmo. Doi o corpo, mas cura a alma.

sábado, 7 de novembro de 2015

Meu livro está prestes a sair

Alô leitores e leitoras do meu blog! Resolvi passar aqui e dizer que estou de volta. Cansei definitivamente do Facebook e só não desativo a minha conta porque estou viciado num jogo de Pokemon para celular e preciso do face para mandar corações para meus amigos. Eu queria compartilhar uma novidade com vocês e falar dela ajuda a tornar mais real: MEU PRIMEIRO LIVRO ESTÁ QUASE PRONTO! Eu pensei muito no final do ano passado sobre os rumos que eu estava tomando na minha vida. Eu trabalhava, trabalhava, trabalhava, trabalhava e só isso. Nem tempo para receber eu tinha e o governo ainda arrancava grande parte dos meus ganhos nos impostos, então não valia a pena. E nessa rotina conturbada, eu deixei de lado coisas que eu adorava fazer e uma delas é escrever. Eu acredito muito em dons. Não tem um ser humano que não nasceu com um. Eu uso muito a teoria das inteligências múltiplas no meu serviço e sempre obtenho resultados. Cada aluno tem sua aptidão, seja ela musical, lógica, linguística, espacial, física, dentre outras. Eu sempre curti escrever. Sempre. Eu já cheguei a ganhar dinheiro para escrever e falo que foram os melhores anos da minha vida. Eu era aquele garoto que tinha um brochurão para escrever estórias e que sempre os valentões pegavam e zoavam. E nisso deixei que a zoação deles deixasse meu dom latente. Eu perdi muito em termos de gramática e redação nestes cinco anos que fiquei longe da escrita. Mas agora afirmo com todas as letras que voltei com força total para o mundo literário. Eu botei metas para mim, fiz um cronograma e graças a Deus estou em dia com ele. Se tudo der certo, até o fim de janeiro termino a minha primeira obra. Depois ainda vai demorar, pois farei a revisão geral. Não sei como será a publicação. Se eu terei dinheiro ou não. Se farei um e-book mesmo e disponibilizo de graça aqui. Se posto um capítulo por dia num blog. Não sei. Só sei que o livro vai sair. Sobre a história não quero adiantar nada ainda não. Só posso falar que é um romance infanto-juvenil. Uma história que eu gostaria de ler aos meus 14 anos. O livro já tem 210 páginas e deve aumentar um pouco ainda. Mesmo sem estar finalizado, já estou orgulhoso do tanto que eu consegui e agora não paro mais. Já tenho rascunhado enredos para mais quatro livros, sendo dois romances e duas coletâneas de crônicas. Então é isso pessoal. Voltarei com o blog também, mesmo que seja só para falar comigo mesmo. Mas já tá bão. Adeus gente, amo vocês

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Rocha Larrisa

Título alternativo: já se foi o Tênis Voador. Eu gosto muito de traduzir textos pois cada dia que passa enfrento um desafio novo que me faz pensar bastante como questões linguísticas estão inteiramente ligadas com dilemas culturais. Adoro o fato de em inglês não termos uma palavra específica para "saudade" e somente o termo "senti a sua falta". Dá na mesma, mas é legal analisar. Acho interessante também o fato da cultura americana não usar o termo "ganhar dinheiro" e sim "fazer dinheiro (make money)". É diferente você parar para pensar que você ganha aquilo que você produz/faz. No Brasil o povo acostumou tanto com a cultura esmola que a coisa está feia. Dentre algum destes exemplos o que eu acho mais interessante é o "15 minutos de fama". Para o que nós brasileiros chamamos de "fama" para eles é vergonha (Fifteen minutes of shame). Pra mim esta segunda opção está fazendo bem mais sentido ultimamente. Eu, um garotão pai de familía e formador de opinião, não consigo passar um mês sem dar a minha contribuição para o mural da vergonha. E o pior é que eu gosto demais disso. Ter uns bons casos para contar é o máximo e eu já cansei de ficar retraído e não fazer o que eu tenho vontade. Eu sou duas pessoas diferentes. O Wálisson que fica na sala de aula não é o mesmo Lalinho que você encontrará pelas festas e becos da cidade. Se um dia eu tiver que eliminar um dos dois, o Wàlisson dança. "Uma hora você tem que criar juízo". É claro que eu vou criar juízo sim. Mas enquanto estas coisas me fizerem feliz vou continuar me aventurando loucamente nelas. Não sei porque nós temos que praticar o desapego ou eliminar aquilo que nos faz bem. A vida já é curta demais e não vale a pena ficar vivendo interpretando um personagem que você não é. Sábado passado eu tive a chance de dar uma festinha aqui em casa. Fazia tempo que eu queria receber meus amigos aqui. Não deu pra vir muita gente, mas havia um pessoal bem bacana. Achei legal o fato de duas ex-alunas virem pra minha casa. Devo ser um professor legal. Eu nunca iria numa festa na casa de algum dos meus antigos professores. Após a festa, com o sangue um pouco etílico, resolvemos ir pra Death curtir o show da banda Rocha Larissa. Tudo estava bom e tal, até o momento que um tênis voa no palco e interrompe o show. Aí eis que o vocalista grita "que chulé! Quem foi que tacou esse tênis aqui". Ae eu olhoi para o meu pé e ví que eu estava descalço. Na hora fui correndo buscar meu tênis e 26 segundos depois o segurança já me cata e me barra do baile. Eu estava ficando irritado, pois eles não queriam ouvir minha justificativa (de que eu não sabia como o tênis saiu do meu pé e foi parar no palco), mas quando as portas foram fechadas eu encontro o Giba lá fora, que havia sido acusado de dar uma cortada em um tênis voador e que foi parar em cima do palco. Não teve como não rir. A raiva sumiu rapidamente. Basta uma desgraça maior que a sua pra transformar a triteza em alegria. O episódio rendeu boa prosa, alguns pés na bunda e virará um conto no futuro. Ir pro Sartén nos sábados é outra coisa que eu estou gostando muito. Ter um novo point pra galera reunir sempre, sem precisar chamar é ótimo. Só de saber que não ficarei em casa em pleno sábado é bom demais! No domingo pra finalizar ainda tivemos uma roça do pessoal do Rotary. Sei lá, apesar deles serem todos mais velhos e tal, eu me sinto em casa com eles. Acho o pessoal engraçado e ver eles zoando um aos outros, bebendo sem receio e conversar com gente adulta faz bem demais. Comi igual uma leitoa em véspera de natal, nadei muito, ri muito, e voltei morto pra casa pra dormir e finalizar o final de semana. Mas eis que o telefone toca, 18 horas, chamando para uma tuada no Pompei. I-rrec-u-s-ave-l. Sem vergonha na cara, fui pra lá e tava muito bacana os ensaios pros Jams do fim do mundo. Agora estou na última semana de aula. É muita batalha! Lembrancinhas de formatura, cerimônias, fechar notas, diários, conselho de classe, arruma ornamentação, desmonta tudo, monta denovo, mãe ligando desesperada por aula particular porque esqueceu de acompanhar o filho durante todo o ano e agora quer $uprir e$te de$ca$o com a educação do seu bebêzinho queridinho, e por aí vai. Olhando pra trás eu vejo o quanto eu estressei neste ano viu. Brinquei de Ícaro e tentei alcançar mais do que eu conseguia, acabei pecando em muitos pontos por causa do cansaço. Ano que vem quero sossegar a piriguita e ficar mais quietinho. Dinheiro não é tudo neste mundo, concluí isso em 2012. Voltei a treinar bateria! Tadinha, ela tava toda triste e abandonada. Meu prato de chimbal já havia virado uma espécie de cabide para minhas roupas sujas. Não vejo a hora de ficar craque e poder baixar as músicas "yukiless version" do L'arc~en~ciel (versões sem bateria) e tentar tocar. Vai ser show! Nestas férias quero/preciso tirar carteira. Preciso também fazer atividades físicas, mas isso é muito difícil pra quem é pobre e não é sócio de nenhum clube. Vou ter que dar o meu jeito. Andar de carro é bom demais. Já falei isso aqui antes e quero reforçar. Só que ontem eu dei uma barbeiragem tão grande que morri de vergonha. Achei que o carro estava de primeira e ele estava na marcha ré, quase bati no carro que estava atrás de mim. Bom pra eu aprender e ficar mais atento. Meldels! Faltam só 28 horas para as férias, acho que vou morrer de tanta alegria. Ontem eu vi o show 12.12.12, o Criança Esperança para as vítimas do furação Sandy. Foi muito legal ver o Eddie Vedder cantando com o Roger Waters e o Dave Ghrol tocando bateria com o Paul McCartney. Explosão de sentimentos! Meu livro deve ficar pronto em 2013. Ainda não sei o título e não sei o nome dos protagonistas. Acho muito difícil dar nome pra personagens. Tenso isso viu. Pior que o livro é em primeira pessoa e o povo vai ficar achando que é sobre minha vida... mas vou escrever. O primeiro capítulo deve ser publicado neste blog em breve. Depois da noite de hoje vou fazer um post sobre como é ser paraninfo. Ainda não sei como é, vou ver hoje a noite e amanhã conto. Bye Bye! PS: Não me chamem pra beber durante os dias de semana nas férias que eu não vou aceitar.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Guia prático de desotakutização

O que te leva a assistir animes ou ler mangás? A forma como as histórias são narradas? Os peitos das personagens? Os desenhos bem detalhados? A evolução psicológica dos personagens? Nunca parou para pensar nisso? Deveria pensar.

Todo dia as pessoas procuram novas formas de entretenimento e se acham mais cults por terem um gosto diferente das massas. O mesmo idiota que assiste Big Brother também te acha um idiota por assistir Dragon Ball. Pense um pouco no outro lado. Faz bem.

Acontece que quem assiste BBB não sai na rua tentando converter os outros a assistirem também o Reality Show, ao contrário de muita gente que fica alienada com alguma série nipônica e quer que o mundo inteiro assista aquilo por achar que fez bem pra ele e poderá fazer bem para os outros.

Fazer bem para o leitor/telespectador é uma das funções mais lindas da literatura: a função catarse. Nela, nos identificamos com as personagens e passamos a apoiar ou reprimir as atitudes dos mesmos, sentindo nossos problemas, angústias, receios e medos similares aos deles e a forma como eles superam estes obstáculos nos motivam a tentar fazer o mesmo, ou pelo menos buscar algo melhor. Faça um teste: mande uma mulher muito ciumenta e um homem mais jacu ler Dom Casmurro. A mulher vai defender de unhas e dentes que a Capitu traiu, enquanto o homem vai brigar até a morte que ela é inocente.

Nós temos que aprender a viver a nossa cultura. Não adianta querermos viver uma cultura ocidental ou americana em nosso país pois isso não vai dar certo. Você tem que aprender a viver junto à maioria. Uma hora ou outra algo irá te fazer se misturar, seja um emprego, uma namorada ou uma religião.

No caso dos otakus, eu tenho umas dicas pra eles.

Os mangás são como as novelas japonesas. Elas refletem a vida DELES, os costumes DELES, os hábitos DELES, a linguagem comunicativa DELES.

"Mas nos animes todas as mulheres são lindas, os personagens fortes e tal..."

Calma que eu chego lá.

Nas novelas da Globo, tudo é Leblon. O povo fala bem, se veste bem, não trabalha muito, é feliz. Isso é um idealismo, algo que todos nós queríamos viver. Esta é outra função da literatura, que te faz querer consumir aquilo, ter aquele tipo de vida, ver neles a definição de felicidade. As séries japonesas são a mesma coisa, e eu vou provar isso com vários exemplos.

1 - A mulher gostosa que cai do céu

Em vários animes, do dia para a noite, uma mulher aparece na vida do protagonista e tudo muda. Assista 50 episódios número 1 de várias séries e te garanto que a maioria deles começa com um encontro entre um homem e uma mulher. Alguns exemplos: Yuyu Hakusho, Cavaleiros do Zodiaco, Tenchi Muyo, InuYasha, Samurai X (Rurouni Kenshin), Chrono Crusade, Gantz, Evangelion, Bleach, dentre outros.
Isso representa a cabacisse do Otaku, que espera a vida inteira que um dia uma mulher gostosa vai aparecer em sua vida e o contato com ela vai deixar seu mundo mais mágico, fantástico, e você vai passar a ver a vida de verdade.

2 - Japonesas não são peitudas e não têm o cabelo colorido

Não adianta sair na Liberdade ou perseguir os exilados que moram em seu país, pois as japa-girls são completamente o oposto das heroínas dos mangás. Se você acha bonito uma menina delicadinha e tímida, tudo bem. Mas achar ela bonita só por ter o olho puxado, aí é forçar a barra. Olhe fotos de MODELOS japonesas: sem peitos e com os dentes tortos. Olhe a foto de uma modelo brasileira e compare...


3 - Seu pai não é o cara mais foda do mundo

Sabe por que a maioria dos pais dos protagonistas são um dos caras mais fodas do mundo e não lhes dá a mínima atenção? Porque lá, o pai passa a vida toda trabalhando, mal tem tempo de ver os filhos crescerem e não querem saber se eles ganharam um campeonato de jiu jitsu, ou se tiraram uma foto com um rockstar famoso. Ele só quer ver seu boletim escolar com as notas no máximo e aprovado na melhor universidade do país. Por isso tantos japoneses se suicidam quando são reprovados nos vestibulares. Eles passam a vida toda estudando para orgulhar o pai e quando não conseguem... alguns animes em que o pai do protagonista é o cara mais forte do mundo:
HunterXHunter, Full Metal Alchemist, Bleach, Yuyu Hakusho, Reborn, InuYasha, Negima, Evangelion, One Piece,Naruto, dentre outros.

4 - Adolescentes não salvam o mundo

Pegando continuidade ali em cima, a pressão que os pais botam nos filhos para passar no vestibular é refletida nos personagens de anime com a pressão que eles têm de que o destino da humanidade inteira está nas mãos deles. Ninguém estuda, ninguém trabalha, só tem a missão de salvar a humanidade e nada mais.

5 - Se você não tem atrativos sexuais, as mulheres não vão dar em cima de você

Qual o perfil dos personagens de echi? Um cara cabaço, tímido, baixinho, desengonçado e que MILAGROSAMENTE DO NADA, tem 6 ou mais mulheres lutando por sua atenção. Isso não acontece nem aqui nem na China. Love Hina, Tenchi Muyo, DNA, Video Girl Ai... são bons exemplos disso.

6 - Ser Otaku não é massa

Chegue no japão e diga que você é um otaku: vão te tacar pedra. Lá, o termo é extremamente pejorativo e ofende qualquer pessoa. Ninguém lá gosta de se auto-nomiar nesta classe. Não é como no Brasil que falar que é Nerd virou moda. Lá os otakus sofrem mais bullying que os gays, negros, gordos e outras classes menos favorecidas.

7 - Troque seu gashapon por uma mulher de verdade

Você paga 75 reais numa miniatura de um personagem de anime. Saiba que com esse dinheiro você pode ir ao puteiro e fazer a festa lá. Sua cabeça inferior também precisa de algumas boas lembranças de vez em quando.

Por enquanto minhas dicas vem até aqui, assim que tiver mais ideias posto no guia. Obrigado.
Por isso otakus, não adianta você querer viver uma cultura baseada nos mangás, sendo que lá no Japão as coisas são diferentes. Da mesma forma que sua mãe é alienada com a novela, você está sendo pior que ela pois está sendo duplamente alienado com o que passa nas telinhas orientais, porque aquilo não é nem de longe a realidade deles e quanto menos a sua. Olhe para o lado, converse com a faxineira da sua faculdade, sorria, não pense em dominar o mundo e apenas seja você mesmo. Faz bem.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

#19 - Yo soy Rebelde

Yo soy Rebelde

Houve um tempo em que ser rebelde não era uma novela sobre adolescentes riquinhos com problemas de relacionamentos. Ser da mesma sala de aula, por quase oito anos, era praticamente uma irmandade já. Todo mundo sabia onde todo mundo morava, iam sempre nas mesmas festas, conheciam todos os prós e contras da sala, eram cúmplices dos mesmos crimes e por aí vai. Mexer nesta estrutura familiar significaria problema.
Em meados de outubro, vários alunos estavam apertados para passar de ano e finalmente se graduarem no Ensino Médio. Havia casos em que de 30 pontos, eles precisavam de 27. E como estes alunos já têm mais dificuldade, seria praticamente impossível que eles conseguissem. Pensando no aprendizado dos alunos, a direção decidiu separar todas as seis turmas do terceiro ano e classificá-los por notas, para pode trabalhar assim de maneira diferenciada em cada turma.
Uma medida pedagógica até aceitável, mas não faltando três meses para a formatura, isso era inadmissível. Você passa oito anos da sua vida convivendo com praticamente as mesmas pessoas, para chegar na última curva antes da reta final e ter que gravar as suas últimas lembranças da vida escolar com pessoas que você mal conhecia, nenhum aluno do terceirão aceitaria isto.
Indignados com a prática, os alunos esperaram ver que a mudança realmente acontecera para começarem a planejar uma rebelião. Uma estudante chamada Naloi começou a liderar a força rebelde da escola para que algo fosse feito para deixarem as turmas como estavam. Um representante de cada turma tentou falar com a direção, mas esta não ouviu os estudantes e não quis voltar atrás em sua decisão.
Afoitos com a situação e querendo farrear, os alunos tomaram uma decisão rebelde: ninguém iria assistir aula até o momento em que as turmas voltassem ao original. Os dois primeiros dias foram uma maravilha! Todo mundo farreando nas quadras, ninguém na sala de aula, jogatina esportiva a manhã inteira e muita diversão. A direção da escola não sabia o que fazer para reverter a situação e trazer os alunos de volta para a classe.
Professores mais terroristas tentaram comprar os alunos com provas surpresas e trabalhos avaliativos, mas os nerds já haviam passado no terceiro bimestre e os que não passavam já estavam conformado com as dependências, então não adiantou porcaria nenhuma.
No terceiro dia de greve, já estava até dando vontade de matar a quadra e assistir um pouco de aula, mas a força rebelde falou mais alto e os alunos desmotivaram-se rapidamente e voltaram a prática desportiva.
Para piorar a situação, os grevistas não podiam deixar de convocar a imprensa, esta que compareceu prontamente. Achando que o motivo da rebelião era grave, eles devem ter ficado desapontados quando descobriram que não passava de uma birra de alguns menininhos que haviam sido mudado de sala.
No quarto dia, a direção já estava com bastante raiva dos alunos e decidiu passar pra agressão verbal e para ameaças do tipo “ou vocês voltam pra sala de aula agora ou serão expulsos da escola e perderão todo o ano letivo!”. Leiga ameaça. A peteca continuava muendo, raquetes agrediam bolas de tênis, a bola de vôlei cruzava a rede e as salas de aula continuavam vazias.
No quinto dia, alguns mocorongos começaram a assistir aula: “O vestibular está chegando, preciso da aula de História para me dar bem no exame”. Este cara está trabalhando em uma fábrica de costura. “Nossa, o Saulinho de Química vai dar trabalho, preciso de ponto para passar”. Atendente no Bazar Guri. “Ai gente, vai que eles expulsam a gente né, já cansei de ficar aqui na quadra de bobeira”, do lar.
Outros permaneciam firmes na decisão: “Todos os meus amigos estão aqui, só volto quando nos botarem na nossa sala antiga”. Sargento do Exército. “Estou pouco me lixando pra pontos e pra notas, quero é aproveitar meu último bimestre como estudante”. Aluno cursando mestrado em engenharia. “Fuck the system!” Médico.
Mas pouco a pouco a coisa foi apertando. Vários traíras começaram a ceder às ameaças feitas pelos professores e desertaram para as salas de aulas, com o intuito de aprender em dois meses o que eles deixaram de aprender durante onze anos. Sem opção, o grupo rebelde começou a desistir da birra e resolveu aceitar a medica pedagógica, porém com uma última condição: Queremos uma festa de formatura conjunta com todas as seis turmas e nas fotos do convite de formatura gostaríamos de sair na foto com nossa turma antiga.
A greve a princípio não teve resultado nenhum e todos saíram derrotados, mas o que aconteceu foi estranho e bonito. O bloqueio que o povo tinha contra novas amizades foi quebrado e a interação entre todas as seis turmas aumentou de força exponencial. A festa foi épica, mas isto é caso para outro causo.