terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A língua em retrocesso

Uma língua muda com o tempo. Isso é fato e ninguém pode negar. Mudam-se a grafia e o sentido lexical das palavras, certas pronuncias, gírias e expressões caem em desuso e são substituídas por novas, dentre outros diversos fatores que agem como transformadores do idioma.
A língua escrita, na última década, tem sofrido constantes danos devido ao internetês. Poucos conhecem a diferença entre /ch/ /x/ /s/ /ss/ /ç/ e a regência e a concordância entre nomes e verbos também vão pra lixeira já que ninguém revisa o que escreveu, pois no mundo virtual uma das principais exigências é ser o mais rápido possível. Sem contar com as abreviações ridículas em que a pessoa pensa que ganha tempo escrevendo ‘naum’ ao invés de ‘não’, sendo que o número de caracteres digitados é o mesmo.
Para piorar a situação surgiu o ‘miguxês”, linguagem adotada pelos emos e afins para se comunicarem. Nesse idioma, parece que quanto mais complicado você falar, melhor você é. Uma frase simples como ‘esse cd é muito legal’, no miguxês viraria algo como ‘exxxiihh xedêeh ehh muituh lecauhhh’. Além da poluição visual e sonora, o leitor tem que gastar o seu tempo decifrando um texto que geralmente nem vale a pena ser lido.
E como tudo que é ruim ainda pode piorar, parece que o homem moderno regrediu para a idade das cavernas e agora conversa por desenhos. Essa ‘nova’ forma de comunicação pode ser encontrada atualmente nos usuários do comunicador instantâneo MSN através do sistema de emoticons, que no início foram criados apenas para representar um sentimento, seja ele de alegria, tristeza ou paixão, mas agora eles estão mais sofisticados e qualquer gift serve para ser usado durante uma conversa.
E certas pessoas, por falta de senso e domínio do programa, vão adicionando todos os emoticons que vêem pela frente, e o pior, não selecionam um atalho adequado para eles. Vê um bonequinho correndo, adiciona o comando ‘vou’ para esse emoticon. Vê um gift de um cara rindo escandalosamente e escolhem o comando ‘ri’ e por aí vai.
A simples mensagem “oi eu voltei”, se transforma num enigma babilônico que tortura o receptor da informação. Do nada surgem no computador as figuras de um bonequinho acenando (que é difícil de entender se é oi ou tchau), a de uma menininha ou menininho que o usuário se identificou e renomeou como ‘eu’ e a de um ser correndo ou indo embora que o mesmo intitulou como ‘vou’, e, por fundir o desenho com o erro de grafia, a palavra fica dividida entre um emoticon e um ‘tei’ solto no final da oração.
Com tantas mudanças em tão pouco tempo, é difícil imaginar o que ainda está por vir. A gramática normativa não se renderá a essa forma de comunicação e os usuários julgam desnecessária a maneira correta de escrever. Se continuar dessa forma, haverá um divórcio entre a linguagem escrita normativa e a virtual. Futuramente não seria espantoso encontrar em uma esquina uma placa com o anúncio: “Aprenda como entender um texto virtual em cinco semanas”.