domingo, 7 de agosto de 2011

#10 - Bolo molhado

(Fiz este post participando de um Hangout, então não me acussem de ser irracional.
Só queria deixar relembrado este fato, não dei conta de narrar o tanto que a cena foi engraçada, mas futuramente este post sofrerá uma edição)

Era um domingo de manhã. Os amigos haviam combinado de ir pra cachoeira, aproveitar o sol, as belezas naturais e um bom piquenique entre amigos. Tudo estava programado na mais perfeita harmonia, exceto a chuva que caiu logo no início da manhã.
Os amigos iriam se encontrar na porta do SAAE às 8 da manhã para de lá subirem para a cachoeira. Como a chuva, mesmo fininha já era uma chuva, começou por volta das 7, Naloi, a organizadora do evento, começou a ligar para todo mundo mandando que eles fossem para a sua casa e levassem os mantimentos para lá, e de lá nós veriamos se faziamos o piquenique na garagem ou se esperavamos o sol raiar. Como eram muitas pessoas, Naloi gastou um tempinho bom ligando para todos, até que quando ela ligou para Remi, ela teve a triste notícia:
- Uai, ele já saiu pro SAAE - confirmou a mãe dele - ele foi mais cedo porque ele passou a noite inteira fazendo um bolo pro piquenique, e não tinha ninguém pra ajudá-lo, então ele foi andando na frente pra ir carregando o bolo devagar.
- Se você conseguir falar com ele, avisa ele pra vir pra minha casa - finalizou Naloi.
A desgraça já estava feita.
Para quem não sabe, Remi era conhecido pelas suas habilidades culinárias e por ser um piadista nato. O problema era que ele era o paradoxo do humor. Quando estava de bom humor, era a pessoa mais amável do mundo. Quando algo fazia raiva nele, ele era capaz até de botar fogo em um membro da sua família (fato verídico). Uma vez, ele caiu de bicicleta no centro da cidade, ralou toda a sua costa, a bicicleta deu um nó de tão amassada e ele se levantou, catou a bicicleta, ou o que restou dela, e saiu correndo como se nada tivesse acontecido. Sem contar no dia que ele caiu no mata burro, mas isto sáo outras histórias.
Como celular não era uma coisa comum naqueles tempos, não havia outra solução a não ser deixar o Remi mofando lá até ele desconfiar que os seus amigos estariam na casa de Naloi e resolvesse descer.
A turma estava toda lá fazendo festa quando de repente Remi chega na casa de Naloi, cansado, com um bolo de dois quilos debaixo de braço e muita raiva na face.
Ele já recusou todos os cumprimentos e ficou puto por ninguém tê-lo avisado que era pra esperar na casa de Naloi e não no SAAE. Depois de muitas tentativas de justificar e de desculpar, Remi voltou a socializar com seus colegas e o piquenique foi servido, mas Remi não deixou ninguém comer seu bolo, alegando que ninguém o ajudou a carregar e que ele comeria o bolo sozinho.
Após o horário do almoço, o sol raiou e nós decidimos subir pra cachoeira. Remi pediu que alguém o ajudasse a carregar o bolo até a cachoeira, mas ninguém se dispôs a ajudar. A ira dele só aumentava e ele falou que ninguém iria comer o bolo dele, pois ele já havia carregado o bolo da casa dele até o SAAE, do SAAE até a casa da Naloi, e agora carregaria novamente da Naloi até o SAAE e depois disso até a cachoeira.
Com dó do esforço de Remi, vários amigos se ofereceram para ajudá-lo, mas o orgulho dele era maior que tudo e ele não aceitou a ajuda de ninguém, reforçando sempre a ameaça que o primeiro que lhe pedisse um pedaço de bolo iria tomar um soco na boca.
Chegando na estrada de terra, a turma de peregrinos tinha duas opções: subir pela correnteza, fazendo uma aventura radical e refrescante, ou ir pela estrada de terra até chegar ao topo da cachoeira. Nem é preciso citar qual foi a escolha do grupo: subir pela correnteza.
E lá estava Remi carregando o seu bolo, com água até nos joelhos. Quanto mais a turma avançava, mais a água ia aumentando e Remi não desistia.
A primeira expedição já havia alcançado o todo da cachoeira e estavam sentados em cima de uma pedra e a cena que eles viram ficou para sempre em suas memórias.
Remi estava com água até pra cima da barriga, e carregava o bolo sob a cabeça, com as duas mãos erguidas. Ele sabia que podia ir andando tranquilamente porque todos que estavam a sua frente nao tinham ficado completamente submersos, porém ele não contou com um fator: buracos.
Sem perceber, ele deu um passo em falso e a cena que todos viram foi apenas Remi desaparecendo dentro da água, levando o bolo junto.
Em menos de um segundo, como um vulcão em erupção, o cara saiu da água com o bolo nos braços e uivando ferrozmente, amaldiçoando todos ao seu redor. Os amigos não sabiam se riam, arriscando perder todos os dentes, ou se tentavam oferecer ajuda, sofrendo alguns ataques que os deixariam com fraturas expostas. O que reinou foi um silêncio profundo até que Remi solta uma exclamação: "Eu emplastifiquei o bolo, não tem problema, ainda dá pra comer."
Todo mundo sairia dalí com vida, era o que todos imaginavam.
Remi chegou até a pedra e começou a tirar o plástico, na esperança de que ainda desse para comer bolo. Assim que ele abriu o plástico, a água começou a transbordar e o bolo já se esfarelou. Antes que alguém risse, Remi já gritou:
- NINGUÉM, NINGUÉM ME AJUDOU A CARREGAR ESSE BOLO, AI SE ALGUÉM RECLAMAR QUE EU FUI O CULPADO POR DEIXAR ELE CAIR NA ÁGUA. O silêncio reinou neste dia, e nunca mais Remi fez outro bolo em sua vida.

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