terça-feira, 29 de agosto de 2017

Reação às reações

Sempre que alguma nova rede social aparece, o comportamento humano pode ser estudado sobre um novo patamar e nós demoramos a nos adaptar a alguma mudança proposta. Quantas vezes a privacidade de postar fotos no Orkut foi questionada, e hoje isso é algo bastante natural e que acontece a todo momento em dezenas de aplicativos simultaneamente. Cada vez mais somos surpreendidos com determinadas exposições, mas o que mais me espanta e causa irritação ultimamente são os vídeos de reações. Não sei quando essa moda surgiu. Acredito que foi uma vertente dos podcasts e vlogs que comentavam algum assunto específico. Esses, eu até acho válidos às vezes. É como você assistir a um programa de esportes na TV, onde várias pessoas que, em teoria, detém um conhecimento avançado sobre o assunto discutem aquela partida e te ajudam a compreender determinados aspectos que talvez não ficaram claros ou te fazem ver a situação em outro prisma. Mas você também pode discordar dos formadores de opinião e isso também é um bom exercício argumentativo e te ajuda e muito a elaborar discussões seguindo uma linha de pensamento racional e coerente. Porém, atualmente, é fácil encontrar no Youtube vários vídeos de pessoas comuns, fazendo suas reações a determinado conteúdo. É possível ver pessoas ouvindo uma música, assistindo a um vídeo ou até mesmo lendo alguma coisa pela “primeira vez”. Eles juram de pés juntos que não conhecem aquele conteúdo ainda e querem passar para os seus seguidores o seu sentimento de estar vivenciando aquilo pela primeira vez. Se a reação é verdadeira ou se não passa de um teatro, parece não importar. Há sempre alguém assistindo. E o pior: tem pessoas que deixam de ver algo para esperar a reação de determinada pessoa sobre aquilo. Eles preferem assistir a um filme através dos olhos de outro do que apreciarem a obra por si mesmos. Eu entendo isso como um grave problema. Sempre é discutida a questão da distância social que a Internet nos causa, como também da necessidade de ser alguém que você não é para conquistar atenção de alguém. Mas esse patamar é mais profundo. Indica que as pessoas não são mais capazes de sentir. A arte vai perdendo sua graça. Estamos vivendo experiências através da opinião alheia. Se fulano gostou é bom, se ele fez uma resenha negativa, não quero. Ou “o que fulano acha disso?” ao invés do “o que eu achei, foi bom, foi ruim?” Ainda é cedo para nos dizer até onde isso vai nos levar. É triste assistir crianças dando mais atenção a alguém jogando um determinado jogo do que elas mesmas jogarem e aproveitarem aquele momento. E essa geração já está crescendo com isso, como robôs sem sentimentos e que parecem querer aprender a gostar de algo. Tenho medo do que nos aguarda. Daqui a pouco, coisas simples como um abraço, um passeio com os amigos ou uma noite em um bar podem ser sentimentos desconhecidos, cujas pessoas estarão presenciando através de terceiros, esquecendo como é bom sentir o que a vida nos oferece. Que a única reação que importe seja a sua, pois cada ação terá uma reação. Você pode ignorar a sua ação e curtir a reação dos outros, ou pode agir e vivenciar aquilo por si mesmo, e a reação que você terá é de ter vivido e não apenas existido. Reação às reações

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